28 O acaso

 

Se houvesse acaso a poesia não nascia no coração do poeta,

a musa de encanto seria ilusão, o sentido da vida seria um vazio imenso.
Por acaso somente minha passagem pelo agora, sem tema digo ao poema
seja obra de instante, conta causo da base do que sente.

E sentimento não ocorre por acaso, a musa, ilusão só no imaginário,

na realidade a beleza dela que traz encanto, é existente dentro e nela.
Não por acaso ressurge na lembrança quando do passado,
porque ele conta a história que foi vivida como presente posto a vida.

Se existisse aqui no surgir da letra, e no olho que a leia

não teria norte, nem sorte, nem consequência, nem verso
Seria um não ser que não existe, uma pobre vista cega de si
não tendo porto em ser pai, em ser irmão, em ser amigo, sem ter alegria

Deste encontro por acaso é acaso a mesma fonte criadora,

do primeiro impulso, primeiro pensamento, primeira disposição de espírito?
Ora no que vejo, ora no que me sinto, pobre ou rico, lúcido ou taxado louco
o real é que existo, sou sentido, contestado, entendido ou não .

Sempre há uma íntima disposição |à compreensão do porquê,

estou aqui e agora compondo a partir do que eu sinto.
Se mesma semelhança em mesma busca,
nem isso é obra do acaso, já que existes no que sentes e eu sinto.

Na beleza de cada presente um novo desafio

olhar-te a partir da minha vista e da sua de si mesmo.
Tecer cada verso em palavras nem sempre as mais simples,
pois a alma às vezes oculta verdades de si mesma.

Nem estarmos juntos recordando do nosso passado, é obra de acaso,

a partir do instante, movimentamos nossos sentimentos de agora.
Lembrada a musa de outrora, vem outra, pode ser a última namorada,
que nos acompanhou em toda uma jornada.

Esta que passou para ser lembrada, como vida vivida

e a continuidade é uma certeza em cada verso, pois de um surge outro
E as páginas não escritas aguardam em branco silencioso
e nossa alma revolucionária não silencia jamais, é um ruidoso verso.

Gritante de nossas almas eu diria.