Porque será que o maior dos mestres curou a cegueira transitória e não se viu nada mais para alem da alegria do cego, ou o fato maravilhoso em si?
Quem detém a sabedoria jamais atua em qualquer campo de forma impensada, e supor que a cura desejada pelo mestre dos mestres era apenas um ato isolado de cura, pasmos, diante do fato do cego ter nascido desta forma, então, refletindo podemos entender que o alcance desejado vai alem da forma vista.
No campo físico existem cegos que não desejam ver, toda dificuldade é prenuncio de fatores que se contrapõe ao temporário. Resquícios de tempos passados podem eclodir em cegueira temporária, mas não a essa cegueira a que veio o divino mestre.
O choque do homem cego que volta a enxergar traz do ponto de vista da constatação da sabedoria deste mestre, o encontro com outro despertar desejado por ele posto que veio para que todos tenham vida e vida em abundancia.
Veio para que todos possam enxergar plenamente todas as maravilhas existentes vindas da vontade suprema.
Quantos olhos vendo não vêem? E quantas almas dizem que vêem e assim dizendo não tratam o sagrado como algo profano!
Ver além da forma eis a proposta educativa deste grande educador!
Olhar para o mais profundo de si, com vistas a diversas oportunidades oferecidas pelo creador de todas as coisas deveria chamar mais nossa atenção, muito mais que a cura em si, pois a cegueira não exclui do espírito outras oportunidades perceptivas donde pode encontrar verdadeiramente a luz que importa.
Se cego nasceu e teve sua cegueira curada terá vindo apenas com essa finalidade? E depois de estrada dura e escura, perder no tempo as aquisições da sua vontade e perseverança no fluir dos milênios?
A cegueira fomentada pelo materialismo se mantém alem da vida enquanto a consciência não se libertar dos rudimentos da experiência material. Alçando vôos mais elevados sua vista se detém diante da imensidade.
Extasiado o espírito recebe as informações via sua essência do ponto exato onde se encontra, e ai, a vista do que é de fato, se torna desejo de ascensão naturalmente em si instalado pela via das leis naturais da vida.
Quem diante da imensidade do universo não se detém por instante que seja a considerar a que veio o que faz, para onde vai?
Se a cegueira do discernimento mais acertado se prolonga, a dor não vem como instrutora providencial? Quantos homens justos há sobre a terra? Nenhum diria o espírito mais esclarecido nos rudimentos da trajetória planetária nesta fase cíclica!
Nem por isso se deva desalentar a alma buscante não é o desejo de chegar que impulsiona o viajante? Se medir a distancia de um ponto onde se esteja a outro que anseia alcançar isso não o motiva a renovação das energias intimas no propósito visado?
Assim é a vista do cego para sua própria espiritualidade, quando cai o véu que lhe recobre , a nuvem do corpo físico denso que lhe embaça a vista.
Quando por fim, retoma a necessidade maior do seu caminho, de aprender e contribuir através do amor e do desapego completo como membro ativo do processo redentor da humana idade, sua consciência se liga aquele que o gerou e sua felicidade está em descobri-se um com a grande mente.
Se cego tateio em tantas eras
E por virtude conquistei algo aqui na terra
É por amar que volto de outra esfera
Para tratar a vista no trabalho que redime e eleva.
Se por ventura lograr ser esperança, porque alem da vida vivo
Da vida que trago do amor que sinto
Então, terei vista da alegria em que seja causa.
Ela por ser doutro em mim permanecerá inalterada
Pode um cego conduzir outros que tateiam?
Se por sincera vista dos meus tantos desacertos
Por certo que ofereco ao campo da experiência
O que tenha, e se julgue, se compreenda.
E se a compreensão não for alem da forma
Que pela letra indica dor ou alegria que se transmita
Não será falha do meu desejo de amar de alem da vida
Sim da sintonia em que se situem as almas na carne.
Mas se calasse minha fala, gritariam as pedras!
Eis que bate a porta o tempo do caminho estreito
Por isso trato por meu amor esperança
Enquanto aguardo por minha vez
Que minha vista seja curada por quem mais veja!
Não estou só nesta jornada.
Ao meu lado ombreando no mesmo esforço ritmado
Os escolhidos. Encarnados.
Pedras rudes sendo lapidadas.
Antonio Carlos Tardivelli