quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Fosse amor.




Diria com palavras doces e ternas
mesmo que nao fosse dito: Te amo.
Pois amar é mais que dizer
é sentir, ser,e explodir em desejos
os mais loucos.

Se eu fosse amor
sentiria vc todo tempo como sinto
do lado de dentro
como se ousasse mais que vida
porque amar é mais que viver, é essencia de ser!

E se ousasse dizer
seria assim
como a cançao do meu coraçao para o teu

Cansado do frio
se aqueceu nos teus abraços
agora vive, pulsa, alucinado


Por hoje e para sempre

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A lembrança


Do calor de um sorriso

Ao afago de um abraço

Na loucura de um beijo

Como um laço, como um laço.


E depois de tanto encanto

Rogo seja eterno

E o brilho dos teus olhos

Assombra-me docemente.


Veja, bela, é a vida

Quando teu olhar minha alma lê

E tua mão aquecida toca.


Como esquecer se só desejo

Na lembrança do afago e do beijo, mais e mais?

Por ser assim, lembrança, seja eterna...


Por hoje e para sempre...

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Sonetos de saudade:

Por ventura meu sonho torna a vida

E assim algo comigo acontece

Algo novo mesmo remontando há muito tempo

Onde sentimento e razão se misturaram


A dor foi necessária ao despertamento

Donde minha alma vadiante esperava

Como se mais nada vivesse

Definhava...


A natureza divina entanto nos angustia!

E deixamos a parada em movimentação inquieta

Que será depois é incerto?


De certo que por ventura hoje sinto

O que estava adormecido quase morto

Pelo sentimento me ocupa, pela razão renasce.


Por agora e para sempre...


Antonio Carlos Tardivelli





sábado, 8 de agosto de 2009

Poeta


Sem poesia o poeta morre
Sem amar não escreve
Mesmo que seja amor breve
E a paixão?

A paixão do poeta é a letra
E ela não morre embora se modifique com o tempo
Hora é serena, calma, noutra de perda e angustia.
E o equilíbrio?

O poema não permeia seus caminhos no equilíbrio
É feito louco um pouco em seus descaminhos
Vezes é insano, sem eira e nem beira.
É apenas canto....

Então que cante minha alma pelo amor perdido
E por aqueles outros que virão por certo
Se não vierem a solidão inda será companheira
Enquanto a vida passa sem que amar eu tenha.

Sem poesia o poeta morre
Sem amar não escreve
Mesmo que seja o amor breve
Como a chama frágil de um instante apenas.

Seja feita assim a vida de um poema
Algo que nasce do desejo de amar
E que morre ou definha
Sem paixão

Que meu verso ecoe desde minha alma para tua
E se não houver amanha que seja o presente
Algo precioso como a luz que lumineia
A estrada imprecisa de versos errantes como estes.

sábado, 23 de maio de 2009

Lar da esperança parte cinco.




O reencontro no céu


Ah o céu, onde fica? Será distante, perto, que eu faço para entrar, vou poder levar José Augusto meu irmão, pensativo ficava num canto do auditório João Antunes irmão mais velho de José Augusto.

Sua emoção era transbordante nas primeiras horas do dia, sorrindo abraçava seu irmão e o convidava pra brincadeiras no pátio do lar da esperança, eram órfãos e a vida não lhes oferecera facilidades, João o mais velho ainda se lembrava da mãezinha magra que ia toda quinta feira no final da feira recolher os legumes recusados .

Era disso também que se alimentavam. Vezes só do legume recolhido. Se bem que João não via rudeza na vida, a sopa que mamãe fazia era tão saborosa! Tinha mandioquinha que adorava de caldo grosso pela batatinha que ela cozinhava ate desfazer em separado depois acrescentava ao final ao caldeirão.

Dava ate água na boca quando se lembrava, se bem que no lar, tudo era muito saboroso.

Até que um dia não a tiveram mais, nem a sopa, nem a mãezinha que tanto amava. Fora-se em silencio numa noite fria, a mesma quando por razão desconhecida aparecera um homem a porta, dizendo-se voluntário do lar que agora o abrigava e a seu irmão José Augusto.

Leva a santinha que sua mãe lhe dera um quadrinho pequenino que ganhara ainda criança bem surrada, amarelada pelo tempo, e dizia ela, ser a mãe de todas as crianças da terra. Fosse o que fosse que passassem seus filhos, ela estaria sempre por perto, dando força e coragem necessária para entender que temos o necessário, e quando a dor nos visitasse, ela por certo tocaria algum coração, que de pronto atenderia a necessidades urgentes.

Seja de pão ou do melhor alimento de todos, aquele que aquece o espírito, não o deixa desistir, faz dele um guerreiro, o amor, o amor.

Seu questionamento era tão profundo que as vezes José Augusto seu irmão reclamava do silencio, parecia estar em outro mundo, conversando com alguém! Nessas horas quem pudesse ter olhos de ver veria Maria como que sussurrando esperança aos ouvidos do menino.

Era assim que ele considerava o céu. Se Deus esta em toda parte, e como conta dona Luiza da escola, o universo é infinito, então estamos num pedaço dele, ora se estou no céu o que faço nele?

Porque será que uns nascem sabendo que vão morrer logo, logo, como ele apesar dos remédios que tomava sabia, que ia, e o que ia ser de seu irmão José Augusto! Às vezes chorava baixinho ate que Jose perguntava que foi mano, ta derretendo? Ta saindo água dos seus olhos de novo!

Dizia desta forma porque dissera um dia que não chorava, sentia calor nos olhos e eles suavam!

Coisa de criança para não contar da dor que sentia, e sabia que não poderia ficar, portanto todo dia bem cedinho, acordava seu irmão e o levava para brincar no pátio, ate que se fosse isso faria com alegria.

Numa destas manhas um pouco mais frias, seu irmão acordara febril, dona a voluntária das terças feiras encontrara ele todo suado, branco feito leite na cama e tremia! Não levara mais que um dia e seu companheiro de todas as manhas fora levado e não voltara mais.

Na solidão daquelas manhas frias, ele, que sentia que iria primeiro perdera seu bem precioso, aquele rostinho meigo e sorridente de José Augusto seu irmão mais novo.
Tinha recebido palavras amorosas que queriam conforta-lo, diziam a João: Ele agora ta no céu, num lugar feliz!

Ah pensava todo confuso, mas o céu é aqui! É aqui! Queria a alegria do meu irmãozinho ao meu lado, mas se foi e meu pedaço de céu agora ficou vazio, mas como não era desistente, tinha ali tanta gente carente de alegria, não desistia das brincadeiras.

Vi no rosto de outros pequenos, seu irmão José Augusto, e no das tias da cozinha, sua mãe não a do céu que trazia no bolso perto do coração, mas a da terra, que tão cedo se fora...

Sua historia foi bem longa, vivera ali dezenove primaveras. Tinha no seu trajeto e projeto de vida alcançar o céu e poder estar de novo com seu irmão José Augusto e sua mãe que fazia uma sopa deliciosa.

Mas enquanto isso buscava sentia que devia fazer algo, por aqueles que junto com ele dividiam o mesmo quarto.

Tinha o Roque de uma perna, coitadinho queria jogar bola com sua muleta e não podia, então João ficava horas brincando com ele de acertar o balde de dona Maria. Sabe o que aconteceu a Roque? Aos dezesseis anos nos seus um metro e oitenta de altura fora convidado para participar da Olimpíada!

Numa seleção de deficientes físicos que jogavam basquete¹

Tinha o João como ele, só que João Alberto, que era esperto como ninguém mas tinha paralisia, inteligente, mas arredio, não gostava de brincar com ninguém, vivia pelos cantos no seu desencanto, ate que ele numa daquelas manhas quando lembrava de seu irmão que tinha indo pro céu, e chorava, chamara sua atenção..

Porque esta chorando? Ah naquele dia desabara, chorara tanto no ombro amigo que se oferecera, e a partir dali em conversas em brincadeiras encontrara no seu amigo também João algo extraordinário, era um pensador nato!

Dissera olha, você vai ser um grande escritor!
Não é que João Augusto estava certo!
João Alberto seu amigo, tinha escrito um poema delicado como um perfume suave, que tocava a quem lia como brisa perfumada.

Fora lido pelo homem que chegara a porta no dia que mamãe se fora, e este, por sua vez mostrara a um outro que um livro dos poemas fez!

Foi uma festa quando esse soube! Sorria e cantava e abraçara-se a João Antunes, viu só meu amigo você estava certo! E não parara mais de escrever a partir daquele dia.

As vezes ate ficava a rir sozinho, quando no jardim com folha branca parecia pintar quadros com as palavras que escrevia.

Tinha tanta gente na historia de João Antunes, que se fosse somada a quantidade daria dois lares de esperança.

Certo dia, entretanto, também silenciara. Via coisas estranhas sem entender o que acontecia.

Todo mundo correndo aflito, e gritando o seu nome! Doutor! Doutor! Gritavam o João! O João!

A principio pensara que falavam de outro João, depois de algum tempo percebera que era dele que falavam.
Vira a primeira coisa estranha, a si mesmo, branco feito cera da vela do oratório, recostado na grande arvore, onde se encontrava a ouvir as estórias de Lilica!
Vixe agora que tinha de vez pirado! Diziam que estava morto! Ele gritava não!, não! To aqui bem vivo!

Mas ninguém parecia dar-lhe ouvido. Ate que...

Perto da arvore que estava toda florida, de um rosa lindo e forrava o chão as flores caídas, aparece nada menos que uma moça muito linda, que sorria para ele e ele não conseguia lembrar de onde a conhecia!

Ela parecia saber quem ele era! Era a única que lhe ouvia! Ninguém mais, ninguém mais!

Que coisa estranha mas ao mesmo tempo era tudo mais bonito!
Parecia ate sair luz dos seus braços antes cansados, quando se sentara recostado ao ipê!
Vai ao bolso apressado, lá a vira! E quando tira a figura antiga em luz ela se desvanece e a figura celeste diante de si era Maria!

Mãe ele grita feliz!

Ela meiga, diz, tem gente a sua espera vem comigo!
Num instante some o ipê, a gritaria e um silencio musicado por sons de pássaros tomava todo tempo.
Entrara num recinto iluminado, e levara um susto danado.
Seu irmão João Antunes viera correndo para um abraço e a sua mãe. Mas eles tinham morrido, seria real?

Perguntava-se. Estaria ele no céu?

Ah mas quando mais gente encontrava mas essa certeza firmava-se.
Ali era o céu.

Ate ouvir Maria, voz doce, terna como nunca ouvira!
Ela dissera onde estavas João Antunes também era o céu!

O céu é onde estou, porque Deus esta em tudo! Em nós também!

Isso é conto doutro mundo para quem busque o céu neste onde da ate pra ler historia, ou será estória?

Tanta imagem vem na mente, de que lê e quem escreve, podem dizer de coisas belas
Outras tantas onde soltamos a fera interior, depois nos arrependemos. Sentimos dor.

Ao chegar ao céu entanto, vai notar que nele sempre esteve porque é dentro que sente e não fora num lugar.

A esperança é uma porta, mas não para a gente entrar mas para ser.

Quem é esperança o céu sempre leva para oferecer!
È aqui que ele esta, venha visitar o céu que existe, na alegria de um olhar!

No riso farto, no cheiro de mato, na historia de Lilica, no conto de João Antunes, e seu irmão Jose Augusto, do amigo que virou campeão de basquete na olimpíada, do escritor que pinta quadros lindos com as palavras!

No sorriso de Maria Ah Maria, de tão doce e terna que alegria, que alegria...

João Antunes encontrou o céu que buscava e você que leu ate aqui, viveu um pedaço da historia do lar da esperança, sabe onde ela se abriga?

Não o céu! Não ele já sabes, a esperança! Onde ela se encontra!
No lar que leva o nome! Lar da esperança Ah não!

Não é um lugar físico embora tenha corpo.

Ah mas que corpo é esse de João Antunes que parece brilhar de tanta luz!

Segundo Paulo, no novo testamento, evangelho cristão.

Somos todos feitos, corpo material e corpo espiritual...

Ora se estiver no corpo material ligado ao meu espiritual o céu é onde me encontro
A esperança é aquilo que eu posso ser e ter para dar por amar.


Mas ainda não termina nossa historia do lar da esperança, apenas a de João Antunes que passou pela terra, plantou o que podia, colheu o que necessitava

Agora esta no céu com seu então mais novo, suas duas mães uma delas Maria, ou aquela chamada pelo homem que a via, Cachos dourados....

Descobriu onde fica o céu?

Não é o lugar, é estar! Concluiu João Antunes...

domingo, 17 de maio de 2009

Lar da esperança parte quatro



A historia de Lídia Monte Cristo de Oliveira Andrade e Silva, mais conhecida por Lilica.

Gente de toda parte começa a ir conhecer o lar da esperança, o numero de voluntários aumenta e de igual modo a quantidade de gente precisando de ajuda, pois aquele ponto onde faltava tudo, agora tinha em grande quantidade solidariedade humana.
Diferente clima dos grandes centros urbanos onde vemos o abandono nas ruas, homens delirando nos cruzamentos como querendo pregar alguma coisa com suas falas desconexas e confusas. Ali o sofrimento era amparado com o balsamo muitas vezes curativo da bondade e solidariedade.

Quem se esforce por entender a vida, vai perceber que é uma jornada com principio em outra estação, pois nos parece a medida que vamos amadurecendo, que trazemos em nós bagagem anterior a essa vida. Um encontro casual com pessoa completamente desconhecida que nos provoca simpatia imediata e espontânea, um lugar visitado onde sem que a ele tivéssemos acesso, a impressão que temos é que já estivemos ali. Facilidades de aprendizados justos em áreas especificas e uma enorme dificuldade em outras.

Lilica era um anjo encarnado.

O tempo que esteve no lar da esperança espalhou alegrias com seu jeito gentil, sorridente, adorava contar estórias que não se sabe donde as tirava, uma imaginação fértil. Cada dor para Lilica era uma benção dizia ela, pois afinal, fora abandonada em um lixão, e por estar assim adoentada desde que nascera, encontrara muitas almas generosas que passaram a ser sua família.

Sua primeira estória, pasmem, foi contada quando tinha apenas quatro anos e o lar da esperança estava nos seus primeiros passos, as paredes estavam sendo erguidas, algumas caídas de um branco muito alvo.

A grande arvore estava ainda pequenina, nem oferecia sombra que agora oferece. De cachos dourados Lilica parecia estar sempre próxima, pois por diversas vezes ele tinha visto Maria ao seu lado, enquanto contava suas estórias aos menores.

Em meio as brincadeiras gerais, um grupo se reunia em torno dela, e ela começava a contar como se fosse um espírito já amadurecido e com um montante expressivos de estórias em sua memória.

Foi assim que ela contou.

Vinha eu por um caminho, estrada vazia e sem cor
Quando de mim se aproximou um menino e sua mãe

Com seus olhos grandes e verdes, sorriu pra mim como se me conhecesse a muito, muito tempo
Sua voz, parecia o canto dos pássaros aninhados nas arvores pela manhã quando os pequenos ansiando alimento gritam pra suas mães passarinhas.
E elas numa algazarra de ir e vir trazem aos berros pequenos bichinhos para os famintos passarinhos.

Esse menino contou-me que um dia encontrara um caído
E recolhendo com suas mãos soprou, soprou, soprou
Ate que o bichinho saiu voando! Ele ria enquanto contava! Parecia saber o que dizia e também queria que acreditássemos que tudo aquilo que a gente quisesse realizar, conseguiríamos se usássemos de amor.

E como ele sorria ao contar sua historia para Lídia Monte Cristo de Oliveira Andrade e Silva e sorria enquanto contava, parecia amar os passarinhos!

Foram andando os três juntos pela estrada
E o menino parecia conhecer muitas estórias
E estas todas lhe contara, ela apenas repetia, dizia enquanto sorria!
Tinha a da sua mãezinha, que certa feita:

Era dia, calor muito grande, ele fora ao riacho colher com pequeno dedal de costura.
Água pra trazer para um pequeno buraquinho que fizera
E ficara assim o dia todo sem cansar indo e vindo

Ah meu filho dissera sua mãe, que fazes?
Queres acaso transportar todo riacho para o buraquinho que fizeste?

Ah querida não! Responde sorridente
Se o quisesse, isso faria, mas não!

Quero mostrar a quem me veja Que nossa vida é uma jornada e haverá quem um dia me entenda.
Cada movimento é um efeito do ser que pensa e o que pensa é aquele que brinca com seu presente

Se deixar que a criança dentro morra. Não vai mais brincar, vai querer mudar as coisas naturais.

Tipo, trazer o rio para um buraquinho.

Entanto, por ser criança, às vezes, pode querer o que parece impossível.
E nesta jornada de ir e vir aprende com a vida
Que cada momento é único, e que tudo que fazemos alguma coisa em nós transforma.

SE em algum lugar não chove, se alguém levar gota a gota
A água do riacho e da mãe terra, nasce uma plantinha que precisa de cuidados.

Nela vem se aninhar os pássaros, eles comem sementes.
E algumas caem no chão, onde as gotas são colocadas.

Assim é o homem endurecido pelas escolhas que faz
Prefere muitas vezes abandonar a criança dentro de si
E ganhar o mundo todo, passa vida, indo e vindo com a água do riacho em seu dedal.
Tentando encher um buraquinho, e vivendo todo tempo muito aflito!

Tentando, tentando. E quando chega na velhice pobre arvore ressecada
Não tem nada, nem jardim cheio de flores a sua volta
Nem a gramínea macia como um tapete forrando o chão

Nem os passarinhos se aninham em seus galhos
Pois eles estão esturricados de tão secos e finos.
Fica só por um bom tempo, ate que o próprio tempo que transforma toda historia.
Traga o vento que sopra, e como em pó se torna, é levado para bem longe e dele ninguém mais se lembra, nem da sua historia. É muito triste deixar a criança desaparecer.

Ao contraio daquele que não deixa em si morrer E trata com amor cada dia como fosse presente
Molha a terra, da carinho, oferece sombra amiga como abrigo.

Nos seus galhos os passarinhos encontram sementes saborosas
Do conhecimento que transforma, da bondade que assiste, do carinho que transporta amor pra fora de si.

Os homens se abrigam em sua sombra enquanto as gramíneas como eu, oferecem o que podem, contam estórias!
Se lhes servem é como leito macio, macio. Carinho da minha alma pequenina

Vejam quanta semelhança ao lar que nos abriga.
Alguém viu um campo ressecado, triste, pegou o dedal de sua mãe.
E veio trazendo gota a gota um pouquinho de esperança. Era uma criança que sonhava com um jardim, e trabalhava pouco a pouco coma água do riacho¹

Claro que muita gente passou por aquele campo ressecado, e via o riacho, e diziam para si, ah é um campo muito seco com um riacho...

Ate que muitas crianças, se lembrando que são anjos. Somaram-se!
Vivem hoje mais felizes, a sua sombra aconchegante.

Suas historias antes tristes, agora são contos iguais aos do menino.
Afinal água pura em pedra dura tanto bate ate que fura!

Quanta alegria nos traz esse lar agora.

Mas e o menino quem era pergunta dois olhinhos saltados na direção de Lídia Monte Cristo de Oliveira Andrade e Silva , mais conhecida por Lilica .

Não sei responde ela triste, esqueci de perguntar, eram tão bonitas as suas historias que eu ficava a escuta-las .

E ao pensar em perguntar seu nome, parece que ele e sua mãe se desvaneceram , sumiram como fosse milagre.

Eu o chamo de Menino luz, já que não sei seu nome verdadeiro. Um dia talvez o reencontre, ai a primeira coisa que vou fazer vai ser perguntar seu nome, disse ela rindo , rindo , rindo! Enquanto terminava sua primeira estória.

Depois deste dia não podiam ver lilica que se reuniam para mais uma estória.
Mas será que eram estórias ou historias, pareciam tão reais! (estória algo inventado, imaginado; historia algo que aconteceu)

Tinha dias que alegria de Lilica desaparecia, parecia que o céu perdia a cor sem seu riso farto, suas estórias lindas. Era quando tomava uma dose muito grande de remédios e isso a deixava muito mal, tinha também câncer, quimioterapia uma vez todo mês.

Por três longos dias, não se ouvia as estórias de Lilica, mas quando ia visita-la, la estava cachos dourados perto dela, como conseguia visitar tantos lugares, estreitar em seus meigos braços tantos corações?

Parecia que cachos dourados (Maria) amava toda gente que sofria, e com seus olhos que viam fundo e falavam muito, pareciam dizer que , entendia porque sofriam, mas porque amava sempre estava por perto.

Certo dia cometera uma invasão, sem querer, Lilica tinha um pequeno oratório com uma imagem bem surrada, que ela dizia tinha achado nos tempos do lixão, no mesmo local onde fora abandonada. Era uma daquelas imagens devocionais que o povo das grandes igrejas tinham aos montes, tinha entrado certa feita em uma delas e vira o nome de Maria mais abaixo.

Gostava dela, e a chamava de Mãezinha, já que não tinha uma na terra.

Ela orava com fervor, seu coração se abria e o quarto coletivo onde ela dormia se enchera de um cheiro indescritível, eram rosas, jasmins, perfumes delicados que vinham não se sabe donde! Bem que procurara a fonte, mas so ouvia a prece de Lilica enquanto a emoção o tomava por inteiro.

Mãezinha dizia ela, hoje não consegui contar historia, tudo doía. Mas te peço pelos meus amiguinhos.
Eles gostam de ouvi-las, parece que estou ouvindo enquanto conto, mãezinha será tu que me passas ao ouvido?
Queria te pedir por esse lar que agora chego, por esses olhos abençoados que percebem cada presente, e o recebem como dádiva celeste.
SE te toca o coração a prece de Lilica ela é sua, não do escrito, e descobres mais um pouco onde a esperança se abriga, se esta escondida põe pra fora, nada custa distribuí-la
ela ate aumenta quando se a oferece!
E lilica ainda dizia:
Poe em minha boca aquilo que não possa, me inspira quando alguém me perguntar onde mora a esperança? Permita-me enquanto criança jamais perde-la e se amadurecer e endurecer meu coração, me deixa encontrar em toda minha jornada, lembranças que me façam voltar e reencontrar a criança que perdi.

Protege a casa que me abriga, os amigos devotados minha leal família.
A cozinheira dos quitutes escondidos que me da, o seu lauro da vendinha, me da balas ah tão doces! Dona rose do auditório quanta bondade me ensina coisas boas, diz de um céu que não conheço na terra, se não for o lar da esperança, não sei onde possa estar.

Ouve meu pedido mãezinha, e trate com carinho todos quando eu me for, afinal essa dor as vezes aumenta tanto, que não agüento e choro escondido pra ninguém ver.

Afinal dar tristeza e dor não quero, quero contar historias belas, ter em mim a esperança como porta de luz, se ser um dia, no céu que dona Rose diz que existe, apenas uma criança feliz.

Diz para quem anda pela estrada, e as vezes só vê a poeira e campo ressecado parece ouvir dentro de si lilica, que a cor da estrada que é só nossa é a gente que faz. Quanto mais cegos mais poeira, calor, secura. Quanto mais enchergamos vemos pequenas plantas crescendo, pequenos pássaros colhendo aqui e ali sementes trazidas pelo vento, o sol já não escalda tanto é quente sim mas é lindo la em cima no azul do céu.

A estrada é a mesma, so a forma de vê-la que esta diferenciada.

Uns a vêem com algo sem vida, outros a vêem como um campo a se tornar verdejante.
Os últimos são esperança, os primeiros desistentes na vida.

Tem muito mais das historias de Lilica:
Tem a do Pai João e seu filho Antonio, que plantava arroz e feijão
De dona benta da venda, que dava bala as escondidas para as crianças pobres.
Da arvore bendita, perto do riacho, que alimentava os peixes quando as sementes dos galhos sobre os rios caiam, e também o pequeno urso pardo que na época dos frutos ia todo ano se alimentar dela, e ele e os peixes faziam a festa.
Afinal a cada ano ele mais crescia e quanto mais grande mais balançava a arvore que crescia e mais sementes caiam no rio, era uma festa!
Tem a do Senhor da terra que fez o sol a chuva o vento
E disse ao homem fique debaixo do firmamento e não descuide dos presentes que te dou, mas pobre homem, as vezes se mistura em sua mente tantos enganos, desvios que provocam dores, desmata a terra, polui os rios, derrama no ar fumaça , fuligem, sujeira e não cuida do chão que pisa.
Mesmo assim o Senhor da Terra, continua insistente, a dar presentes todo santo dia.
No horizonte um sol majestoso dourando as nuvens, a chuva generosa fecundando a terra, tudo brota nela.
Tem a do menino contador de historias, que fez o pássaro voar com um sopro.
E muitas outras que não cabem neste conto.

Mas vou passar para o que parece ser o fim da historia de Lídia Monte Cristo de Oliveira Andrade e Silva mais conhecida por Lilica.

Certo dia seu riso sumiu, ninguém mais dela ouviu falar, so dona Benta que levava ela para a quimio soubera do acontecido e o homem que via Cachos dourados.

Ela estava tomando seu remédio do mês, quando silenciara para sempre, e dona benta que via coisas estranhas, percebera cachos dourados recebendo outra Lilica linda cheia de luz, reluzente, que saia do corpo doente e era abraçada por cachos dourados e como sorria a menina naqueles braços.
Ate olhara pra dona benta e para o homem que construíra o lar da esperança enquanto sorria e chorava de felicidade
Parecia que Lídia Monte Cristo de Oliveira Andrade e Silva tinha encontrado sua mãe de tão feliz que estava!
Afinal mãe, é quem acompanha desde os primeiros passos, que ampara, educa, é companheira de cada ato, de cada historia que a gente conta.
E mesmo de outra esfera não esquece dos seus filhos.

Lídia Monte Cristo de Oliveira Andrade e Silva sorria , sorria muito e chorava, chorava nos braços da sua mãe, pois ela tomara o rosto da imagem do oratório, parecia mágica celeste.

Quem pensa que termina a historia de Lilica, ou Lídia Monte Cristo de Oliveira Andrade e Silva, se engana, ela vive, em cada coração que lhe ouviu as historias....

E o seu já ouviu alguma? Pode ser viu, afinal ela pode inspirar poetas, contadores de historias e como tem muita humildade não se identifica diz apenas vale o conto, se sirva como água que a sede sacia

E o conto do lar da esperança não termina por aqui, e que cachos dourados me inspire a contar mais e mais, onde mora a esperança hoje, agora...

domingo, 3 de maio de 2009

O lar da esperança parte três.




O consolador.

Nos dias que foram se seguindo, a montagem do quadro que tantas emoções despertaram em seu coração foi se formando algo maior, mais abrangente. Que trouxesse aos lares mais desditosos algo que amenizasse o sofrimento.

Foi a partir uma pergunta de Melquisedec,um rapaz franzino, que começa a tomar forma em sua mente com base em tantos fatos vivenciados por ele nos últimos tempos.

A pergunta foi relativa a uma crença comum daquelas pessoas, que tinham como apoio o novo testamento cristão. Nele o enviado dizia que “irei para o pai mas não vos deixarei órfãos, rogarei a ele e ele vos dara outro consolador, o espírito da verdade, para que esteja para sempre convosco”

E o jovem pergunta, quem é consolador, quando virá?
Não era religioso, portanto via as coisas de um prisma diferente, sentia que todos poderiam realizar alguma coisa que beneficiasse seu semelhante, era a isso que se dedicava diuturnamente.
Não teve resposta no momento para o jovem Melquisedec, mas promete refletir sobre o assunto e lhe oferecer após o fruto de suas reflexões.

Foi uma sucessão de fatos que o envolveram dali para frente, dada a sua sinceridade em buscar a verdade pura e simples, sem fantasias, apenas por entender que esse simbolismo poderia ter algo a ver com as atitudes e manifestações do ser humano dentro da sua rotina de convivência.

Afinal era um espírito segundo o texto original, e como tal, qual seria o nível de percepção necessária para poder estar sob influencia de tal personalidade? Certo que algumas crenças se dizem portadoras deste espírito de verdade, ou ate elas próprias como finalização de um processo de elucidação e esclarecimentos junto a humanidade.

Por certo, que estaria entre todos os que buscassem a verdade, então porque não com ele que já a algum tempo tinha vistas de outra dimensão existencial na figura angelical de cachos dourados (MARIA).

De todos os dias mais difíceis naquela comunidade, tirara lição que guardaria com carinho. Algumas vezes entendia o que se passava nos lares mais humildes que visitava, afinal a companhia da angustia fomentava nos corações revolta muitas vezes, entretanto em lares abaixo da linha da pobreza, encontrava muitas vezes anjos devotados, com poucos recursos conseguiam conduzir de forma a atravessar os momentos mais dolorosos com visível manifestação de coragem.

Ali no lar da esperança era conduzido a pensar em coisas que jamais imaginara considerar, como se algo ou alguém, quisesse fazer brotar do lamaçal de sofrimentos e dificuldades uma luz e para isso ele se sentia um instrumento útil, pois conduzia suas ações todas nesta direção.

A cada dia um novo desafio, e como responder a Melquisedec? Em que direção refletir, para oferecer algo que pudesse responder a essa questão ?

Foi assim, que adormeceu em rede estendida no corredor externo do lar da esperança e adormecera...

Que sonho tivera naquele dia! Estava novamente na mesma estrada que percorria quando encontrara aquele local de sofrimentos. E o que via era algo assombroso.

Uma enorme luz de tom azulado, como uma bolha enorme, ocupava toda área onde se encontravam aqueles assistidos pelo lar da esperança , a vista era chocante, uma multidão de desfalecidos, estropiados, doentes, ficavam em volta desta grande luz como que recolhendo esperança, que era visível em suas faces sofridas.

Era como se mergulhados na dor visualizassem uma saída e isso reascendia em cada um,brilho diferente no olhar. Acorda de sobressalto, pois o jovem Melquisedec esta a sua frente como que se velando por seus sonhos. E por seu olhar penetrante parecia que participara deles de alguma forma.

Pergunta ao jovem que o observava, a quanto tempo estou aqui meu amigo? Horas diz o jovem, veja o sol já esta se pondo no horizonte e a terra já anunciam com seu frescor e cheiros característicos que vem a noite.

Vão juntos a partir daquela pergunta encontrar a resposta que a vida oferece.
Não á a verdade que liberta? Se encontrada na sua forma mais pura não vai norteando ações futuras?

Ate um jovem Galileu de nome JEOSHUA, quando indagado por seu carrasco silenciara, e esse silencio despertou em todos os que lhe tiveram contato com a historia, a indagação, onde esta essa verdade libertadora?

As vezes o silencio fala mais que mil palavras, e nele muitas vezes encontramos a nos mesmos, em nossa essência somos puros como a veste mais branca, que brilha ao menor toque de luminosidade. O que nos torna então, como seres de origem divina, merecedores de situações tão difíceis, complicadas? Crianças nascidas em condições de extrema pobreza, quando outras dispõe de jardins perfumados, paredes alvas em seus quartos onde o aconchego traz prazer jamais dor.

Somente a verdade pode libertar destes grilhões, mas grande questão para que a esperança tome corpo e forma, o que é a verdade? Essa busca iria fazer dele alguém que traz a vida, a água viva, e quem toma desta água jamais terá sede novamente.

Saindo do grande corredor onde estavam dispostas em filas redes trazidas por ele do norte do pais, de varias cores e que nas tardes quentes, a sombra do ipê e das mangueiras que ofereciam aconchego, todos se acomodavam e repousavam trazendo conversações interessantes, pois afinal encontravam naquele lugar um oásis de frescor em meio a tantas lutas .
Entrava-se em uma grande sala de conferencias onde diversas atividades eram realizadas, festas comunitárias, bazares beneficentes, palestras edificantes produzidas por diversas linhas religiosas convidadas a estabelecer uma reflexão segundo sua diretiva de crença, em algum assunto de relevante interesse para a comunidade.

A diretiva oferecida a cada palestrante era o amor incondicional, sem rótulos, mas focando a consolação que poderiam estar trazendo junto com o entendimento que tinham do que era a verdade.

No palco, por vezes, sublimes ponderações eram colocadas sobre as lutas diárias enfrentadas por todos os que passam pela experiência física, no lar mais aconchegante diversas dificuldades, no casebre semelhantes dores acrescidas da falta de pão. Como se fosse dirigido o nascimento na carne para uma gama enorme de necessitados em obter lições mais duras, em virtude da urgência de elevação a patamares superiores.

O dia das mães foi memorável, Melquisedec, o jovem magro, de olhos grandes e verdes, fora convidado a falar da sua experiência para outros de sua idade, que formavam uma centena de jovens das escolas secundarias que foram no lar da esperança para trabalhos voluntários.

Falara sobre a universalidade do amor.

Era assim o seu relato, pois a vida fluía por suas palavras, eram construídas imagens nas mentes juvenis onde a verdade de cada um fluía generosa e todos se sentiam um só, na urgência da continuidade do voluntariado espontâneo!

Dizia ser o amor uma pessoa
Que fazia o bem, na prosa.
Dizia em versos do seu sentimento
Enquanto fluía do céu, do firmamento.
Luzes diamantadas sublimes que caiam perfumadas
Como pétalas de esperança a mentes mais cansadas.

E o amor dissera, busca a verdade.
E acrescentara, eu sou a verdade e a vida.

Do meu coração dizia Melquisedec, na construção da liberdade.
Encontrei tesouros na fraternidade
Perolas preciosas na bondade
Momentos indescritíveis quando esquecendo a própria dor
Olhei para alem de mim mesmo e amei tanto quanto pude entender o amor.

No rosto desfigurado pela dor no desespero da proximidade da morte
Eu dizia: o que pode ser mais triste que o medo?
Se o inevitável desfecho da experiência termina no tumulo, porque o medo?
E não terminando como cremos, o tesouro esta onde nos o colocamos
O que somos pergunto agora.
Jovens em diferentes condições de vida e juntando o que podemos ser
Como um único movimento, uniforme, sem donos, ou dolo.
Tratamos por nossa a dor do outro.
Não é esse o caminho da esperança enquanto forma o amor?
Não é o inspiro do consolador que nos movimenta?
Então o que é o amor?
Diz Paulo:
Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos eu nada seria sem o amor.

`Por essa fala dele, entendo que esta dentro de nós essa força de imedivel alcance, e temos a necessidade de coloca-la em ações objetivas. A uns esse espírito diz, distribua o pão, a outros a palavra que conduz a esclarecimentos proveitosos, a outro a vista alem da vida, como um tesouro de esperança que ela, não termina.
E tudo como diz Paulo pelo mesmo espírito.

É o mais sublime amor que faz os seres que vivem em paragens sublimes, olharem para os charcos de dor e com ações objetivas, levarem por palavras, por assistência fraterna, esperança.

Temos uma figura na historia humana, pondera Melquisedec, chamada Maria.
É um parâmetro de amor dos mais sublimes, pois vendo ela seu filho ser crucificado, em seu amor, depois de ter pela vida passado ainda se oferece prestimosa, nas cercanias da dor mais angustiante, sua assistência oportuna.

É claro que é uma questão pra mim de crença, pois sinto Maria como uma mãe, de todos nós. Ela vive no céu, e do seu céu interior despeja sobre nós o balsamo, tocando corações que passam a ser consoladores.

Então a grande promessa se cumpre através de todos nós, quando conseguimos pela força do amor, esquecermos nossa dor, sublimando nossos sentimentos, em ações objetivas que tragam esperança a quem se encontre sem ela.

O amor diz, estarei com vocês para todo sempre. E nos perdemos muitas vezes no agora considerando que somente este presente existe, quando olhamos para o céu, isso pela verdade que liberta, se torna pequeno esse presente, como nossa dimensão vista do espaço exterior. Mas não nos enganemos, qual a molécula mais importante em um diamante?
Se o todo forma a harmonia e beleza o bem precioso, cada presente é um acréscimo do amor divino a todos nós.

Agora é um ponto presencial de nossas vidas, na construção ou aquisição de tesouros eternos, levamos segundo penso, o que estamos, porque o somos já é divino. Nada se acrescenta a não ser o lapidar pela experiência, nos caminhos diversos que a vida oferece.

Hoje tenho Aids, desde que nasci, e talvez tenha vivido ate agora apenas para falar deste amor que me liberta. Nasci com ela, como uma mola impulsionadora para que indagasse sobre questões profundas. Porque foi a primeira indagação, e as outras que se seguiram me trouxeram ate aqui.

Falar do amor, sem contar da minha historia, das minhas memórias, não teria sentido.
Poderia eu esquecer meu grande amigo que me tirou do leito onde a única companhia era a dor, em sua generosa oferta, construindo o lar da esperança? E aponta Melquisedec
para um homem que chorava a porta, também ouvindo suas palavras.

Tenho pra mim, continua, que consolar é amar na forma sublime, é ter nas mãos a bondade que assiste, no coração os tesouros mais sublimes que partilha generosamente.
Por ser verdade vezes é no silencio que atua, não busca o reconhecimento, nem a gratidão espera, é mais que a fala dos anjos e dos homens, é tesouro divino manifestado no ser humano.

Quando termina sua exposição Melquisedec se vai e ninguém mais o encontra.

Ah consolação, tens a dádiva dos céus em vibrações do mais sublime amor, por vezes sois uma aparição, um fantasma que dita alem da vida que a vida não termina na mortalha fria. Noutras sois o vento festivo das primaveras, perfumados, acariciando as faces marcadas pela rudes da estrada.

Sois por vezes o verbo inspirado, o toque das imagens construídas com zelo nas esferas dos pensamentos elevados, ah que despertam o sublime anjo oculto a espera da chave para agir com pressa e prestimoso.

A terra é o céu a tua espera.
Não demore no entender o que te aguarda.
O amar esta a tua espera.
Se, pois a esperança que não nega
O braço amigo
A palavra terna
Aquele que se faz presente como luz divina
Afrontando a dor alheia com os tesouros do coração.
Trazendo alento a quem chore
Vista do céu por quem se sinta no inferno
E porque bebes de água cristalina, na fonte divina.
Ofereças aos sedentos do caminho
Esperança não mais cerceada pela cegueira.
Se pois o consolador na terra.
Tu o conheces, ele esta em ti
E amar de ti espera...

O lar da esperança naquele dia ganhara novos voluntários para trabalhos no amor.
Quem é, pois o consolador o espírito de verdade pergunta...
Ao teu coração que leu ate aqui
Se não tens resposta certa agora, vá aos campos da terra onde o trato da bondade esta a tua espera, onde o possível a ti, mesmo que seja uma só gota aos sedentos é a chave que liberta.
E nossa historia continua...
Tem a porta de Luiz o andarilho...
Mas isso fica pra depois quando o lar da esperança for parte de quem leia este escrito
E creia no mínimo na vida alem da vida...

domingo, 26 de abril de 2009

O lar da esperança parte dois.





Os trinta desenhos que compunham um quadro!

Aquele nome, Maria, o conduzia mais uma vez a sua infância.
Na grande tela colocada para projeção de filme natalino, que o chocara!
Um homem fora conduzido para a crucificação!
E uma mulher chorava...

Como se perguntava, comemorar uma data que se diz festiva com uma película tão deprimente do ponto de vista da agressividade humana? Como o ser humano consegue ser tão cruel?
Via somente as lagrimas de uma mãe aos pés do crucificado, associadas as da sua própria despertando nele questionamentos profundos. E o nome daquela mãe era Maria, como também era chamada a sua.
Interessantes e conflituosos as vezes os grandes questionamentos do espírito em sua jornada eterna, por vezes assombrados pelo ter, maculamos o ser com a vista obscurecida pela verdade em si mesma.
Era o homem crucificado portador de uma mensagem que viajaria pelos séculos a mercê dos mesmos violentos e que pouco ou nada a compreendiam.
Seus questionamentos sempre o conduziam a olhar alem da forma, e sempre se orientava por suas próprias conclusões.
Sob os efeitos das lembranças de sua infância continua sua proposta de mural com os desenhos dos adolescentes e que comporia um novo marco para o lar da esperança.
Foi pela ordem em que pegara os desenhos das crianças para o quadro “ pensando historia”.
Depois do nome de cachos dourados, Maria, veio o pensamento transportado para a forma de Juliana, a menina paralítica que todos eram incentivados a ajudar, pois alem do problema comum a todos tinha a paralisia.
Seu coração aos saltos olha para o desenho e não consegue evitar que lagrimas quentes escorressem por sua face.
Ela descrevera em seu desenho os amigos reunidos em torno do ipê rosa, No local lhe cabia, por ser o contador da historia do dia, parecia que ela desenhara o crucificado de sua memória da infância! Uma enorme luz era o que se entendia por um circulo com raios multicores, que a principio entendeu ser o sol no horizonte, mas por analise mais precisa, percebeu que a menina desenhara com todos os tons de cores disponíveis a ela o lugar onde ele vira cachos dourados assentada e ouvindo a ele naquele dia(Maria)
Novamente veio a sua mente...
“O reino dos céus, é semelhante a uma semente de mostarda, é a menor das sementes, mas ao germinar se torna frondosa, abrigando em seus ramos os pássaros do céu”.
Entenderia um pouco mais profundamente no correr daquele dia, como esperamos que você que lê, também considere.
Que tudo o que esta fora é elemento para despertar o que vive dentro!
Que esse reino, dos céus, onde se encontra a terra também, é por via de constatação dado ao avanço da ciência, tanto em todo o universo como aqui na terra, dentro dos corações e não fora deles.
“Pai! Seja feita a vossa vontade, assim na terra como nos céus!
Essa vontade superior sempre acontece considera ele naquele momento de emoções e lagrimas que se seguiriam marco da sua existência, pois cada descoberta onde se abra a porta do universo interior nos torna seres renovados, com novas propostas de acertos cada vez mais precisos, em sintonia com a verdade eterna.
As lagrimas ocuparam novamente em fluir posto que a seqüência dos desenhos por mentes que viviam absorvidas pela dor, pelo abandono, por doença implacável, lhe oferecia naquele instante lição que reservaria lugar especial em seu coração pela eternidade, era esse seu desejo, jamais esquecer...
Depois de Juliana, foi o de Paulo, menino magrinho, meio pálido que em suas primeiras semanas no lar da esperança, trouxera alegria e ao mesmo tempo despertava grande compaixão em todos.
Olhos azuis grandes, quando chegara era tudo o que se podia ver de belo no menino, todo seu corpo carcomido pela desnutrição, era pele e ossos! Mas quando tocado pelo carinho dos voluntários do lar, sorria! E seu sorriso se assemelhava a duas estrelas de luz ofuscante e azul a brilhar e motivava quem o assistia a se desdobrar em vibrações do mais puro amor em sua direção.
- Quem lhe falara de amor assim na sua infância? Quem lhe ensinara os caminhos da compaixão, quem o transportara para aquele lugar naquele dia, perdendo-se para se encontrar? De que ser era a voz que ouvir ressoar dentro de si...
Paulo desenhara o campo de futebol com os meninos correndo atrás da bola, e um outro ele próprio, correndo feliz entre eles! O juiz, era parecido com o homem do desenho de Juliana, no lugar onde ele se colocava para contar suas estórias ah, mas na beirada do campo, onde pela primeira vez freara seu carro, onde cachos dourados lhe aparecera pela primeira vez para depois se desvanecer, mais uma vez, o desenho de uma luz de cores diversas.
Um dia o amor disse:
“Onde estiverem duas ou mais pessoas reunidas em meu nome ai estarei presente”
O lar da esperança, pelo que sentia, já não era algo de estrutura externa. Tomava forma, cores, luzes nos desenhos das crianças. Já tinha se tornado algo do lado de dentro naqueles pequenos anjos mergulhados na agressividade da Aids.
Aninha o deixara assombrado, desenhara uma arvore grande que lembrava e muito o ipê rosa, todos eles assentados e no local de cachos dourados mais uma vez com traços de varias cores um pequeno sol reluzindo e deixando seus raios multicores se desprenderem e como que se dirigindo a cada cabeçinha ali presente.
Pareciam todos filhos de cachos dourados...
O desenho de Pedro Paulo fora desconcertante atrás do ipê onde apenas um barranco havia, desenhara outro edifício de cinco pavimentos e sobre o menino no desenho de Aninha mais luzes desprendidas de cachos dourados se concentrava, e para isso, não encontrara explicação.
O menino tinha historia semelhante aos demais, nascera no bairro pobre, era negro um lindo menino negro, e sua doença já tivera traços alarmantes com complicações diversas
Quem pode medir o alcance da compaixão? Se nós que somos imperfeitos, damos boas coisas para nossos filhos, quem nos fez humanos e divinos, e nos tem como filhos seus deixar-nos-ia a mercê da dor olhando todo sofrimento de um trono reluzente?
Porque a dor esta espalhada e as almas gemem nos cantos obscuros parecendo abandonadas, ao pensar isso, pareceu-lhe que um perfume suave era trazido pela brisa daquela manha de primavera.
O cheiro de roseiras plenamente em flor fez com que seu espírito recordasse de cachos dourados, não fora sua aparição no momento oportuno, quando perdera-se e se sentia perdido, o impulso que necessitava para dar uma direção objetiva as suas ações na área social?
Reunido com aquelas crianças quantas lições de amor tivera com as aparições de cachos dourados! Parecia um anjo motivando a compaixão que sentia pelos mais sofridos.
De Pedro Paulo, não sabia, mas estava reservado um momento especial de despedida quando tivesse terminado sua tarefa junto ao lar da esperança, no momento em que ele se despedisse da vida e das crianças que passara a amar como se fossem seus filhos.
Zoaraia, a menina autista, aidética, também rabiscara talvez motivada pelo momento onde o que se ouvia era só o roçar das pontas do lápis nas folhas brancas. Entre os rabiscos que a primeira vista pareciam desencontrados, observara trinta pontos onde usara a mesma cor, e formava na pequena folha um quadro abstrato e de uma lógica estonteante, para ele, que sabia, era o único que via cachos dourados.(Maria)
Num tom de azul que tudo unia, que partia de Maria, como um circulo traçado formando uma espécie de proteção para os trinta pontos comuns, onde ela, com seu jeito descoordenado fizera encontrar todos eles em tonalidade de dourado, vermelho e amarelo ao lado .
Mãe lembrara naquele momento, que o fizera ninar quando pequeno, tinha colo quente e aconchegante, era o próprio amor que aquecia nas noites frias, onde fingindo medo corria da sua cama e choroso pedia para dormir no meio.
Cachos dourados parecia saber que ele entenderia o propósito maior do seu amor por aquelas crianças, levaria algum tempo para que juntando as partes ele pudesse isso acontecer, que o amor de cachos dourados, que despertara plenamente quando vira seu filho morrer aviltado, injustiçado pela cegueira humana, e se propusera a amar aqueles a quem ele houvera chamado de irmãos seus.
Até os próprios agressores, a plenos pulmões dissera:
Pai perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem!
E a dor por vezes é escola que redime, eleva a alma enquanto jornadeia na estrada poeirenta e fria. Muitas vezes violentada pela indiferença, não fossem as manifestações de amor de outras esferas, como aparições provando a vida alem da vida, na condução do voluntário desapego, da compaixão que existe dentro dos corações, no celeste abrigo chamado Terra. A dor sofocaria aqueles que passam por ela...
Então se ouve o chamado do amor lhe direcionando a compaixão, que esperas?
No desenho de João algo que enternecera, paralítico das duas pernas, ele se desenhara correndo pelos campos e o curioso nestes campos, eram as trinta arvores dispostas em torno deste campo onde corria! Parecia que o desenho de João ria enquanto ele chorava copiosamente ao ver fala comum a trinta corações!
No de Joana Maria, com seus cachos negros pendentes enquanto com um só dente sorria, encontrara mais que trinta, como se uma multidão não vista circundasse o lar da esperança, enquanto se ouvia historias nas tardes de domingo. Seria proteção de outras esferas se perguntava enquanto suas lagrimas rolavam silenciosas.
Por outro lado refletia aquele não era o lar da esperança, um ponto onde cachos dourados (Maria) lhe aparecia, e não era ela com seus traços angelicais e seus olhos repletos de amor e compaixão reunia os desabrigados pela esperança?
SE O AMOR FOR POR UMA VIDA, que triste sina para o amor... Morrer, morrer...
Assim, o mural se apresentava trinta pequenas folhas que já foram brancas, o próprio amor retratavam, era um dando pro outro, sentindo e ouvindo pensamentos.
Quem consegue ouvir ainda sua criança interior? Ela da asas a vida, conta segredos vê alem da forma sem medos. Perdoa como se não tivesse sido agredida, esquece as rudezas de uma boa briga.
Joga pião, brinca de amarelinha, mas se surge algo que lhe toque com um olhar cheio de ternura um grande sorriso devolve! O amor nunca será um estranho ao amor. È uma única luz, que parece adormecida, mas no trato da ternura pela vida, vai se redescobrindo seus contornos no interior dos seres.
Sua proposta para aquele dia, fora alem das suas expectativas e agora juntando todos os pensamentos das crianças, estendera num lençol pedido a Mariângela assistente social, e colados um a um na seqüência que encontrara, com o nome Maria! E os pequenos desenhos abaixo.
Formavam uma historia quem os via só pela forma não entedia a linguagem dos sentimentos ali colocados, eram parecidos! Todos tinham como uma luz e trinta eram os quadros, trinta eram as formas rabiscadas.
Mas só ele via Maria, ou melhor Cachos dourados...
Este lençol branco, com folhas espalhadas pela ordem, compunha a sala onde diversos pregadores, de diversas religiões se apresentavam como voluntário para falar de suas crenças, segundo ela, ouvira algumas, também tinham traços em comum.
Pareciam de mesma essência, embora os homens dividissem em nominações diversas.
E o quadro na parede, se fossem crianças ouviriam sua mensagem silenciosa.
A rosa é única. A roseira também.
Todas têm em semelhança o mesmo perfume, se dizemos ah a bondade esta nela, como um perfume que exala, donde vem a bondade se não da fonte?
Não é pois pela arvore que se lhe reconhece os frutos?
E se dizemos essa fruta veio de uma macieira, de uma mangueira, de uma castanheira não estamos falando de sua origem?
E se dizemos Pai! Da-me o entendimento, a sabedoria, a compreensão do amor, acaso ele como fonte, nos ofereceria facilidades, tudo pronto. O céu por graça sem que tenhamos que visitá-lo primeiro em nós?
E mergulhando no nosso próprio ser, descobrindo somos fruto de uma mesma arvore.
Não devemos nos sentir felizes? Mais irmanados, mas pacificadores, mais consoladores...
Os pássaros cantam nas manhas de primavera, porque nós, que pensamos, sentimos, criamos, deveríamos ser diferentes. Não é o fruto falando de sua arvore?
Se queres, pois encontrar Deus, olha primeiro Ele em ti mesmo.
E quanto tua consciência, criança, pura, sem preconceitos, maldade, te disser
Eu e meu Pai somos um só! Ah não mentes! Não vagueias alucinado a ponto de ser tido como louco fanático.
Pois só tu, fruto, sabes da seiva que vos alimenta.
Quando desprendido dela, será preciso que se vos lembre?
Não é tu, criatura humana, visitada pela necessidade de amar enquanto vives?
E esse amar não a seiva que alimenta a vida?
Acaso o fruto não deve servir de alimento, e se não servir para sua finalidade, de que serve se não para ser jogado e pisado pelos homens...
Pensa no quadro que vais formando, quando viajas comigo pelo lar da esperança, esta fora de ti o que viveste e sentes? Não é acaso o filme de tua vida que te encontras a visualizar nesta viagem comigo?
Tantas perguntas, sim,” não vim para trazer a paz, mas sim a espada!”
Semelhante atrai semelhante...
E a paz é presente de agora, que fazes com tua historia.
Traças teus quadros na compaixão, te elevas buscando os abrigos celestes iluminados, os mundos felizes, reunir-se com seres angélicos, ou se dobras, visita o lar aflito, o rogo desesperado dos filhos sem teto.
Para descobrires enfim, que o céu esta onde tu o levares.


domingo, 19 de abril de 2009

O LAR DA ESPERANÇA - PARTE UM


A viagem...

Disposto a encontrar seu caminho, homem viajava pensativo, ponderando sobre sua vida passada, as escolhas feitas, as frustrações e as vitórias em todos os campos da vida.
Materialmente tinha posição privilegiada não fora assombrado em toda sua jornada por nenhum momento de miséria ou fome, que tivesse lembrança.
Mas a justo tempo, seu espírito ansiando por novas realizações, reavaliava tudo que envolvia sua ação direta, para assim, adicionar esforço de renovação dentro das ações costumeiras.
Dirigindo seu veiculo por estrada longa e sinuosa, não notou perder-se na rota, ate chegar as cercanias de um lugar paupérrimo, onde a miséria e a fome era evidente, e ao mesmo tempo revoltante.
Indagou-se como podem seres humanos viver em situação tão deplorável e triste.
Repentinamente uma bola surge a frente do seu carro em movimento, usa os freios com energia e um menino com olhar assustado estaca, ele observa que , apesar do susto, e das condições físicas do garoto, este lhe dirige um sorriso, embora assustado.
Com receios em função dos noticiários relativos aos locais de pobreza extrema, ele estaciona seu veiculo, e passa a observar o grupo de garotos brincando num pequeno espaço plano, de grama mal cuidada e espaços de terra batida.
Fica parado meditando por longo período, ate que resolve conversar com um dos meninos, justamente aquele que viera a frente do seu veiculo quase sendo atropelado, pois este ficava sentado só observando o jogo dos meninos.
Parecia ecoar em seu espírito a voz da nona, falando da necessidade de se praticar o bem ao semelhante, enquanto vivendo na terra, pois todos como o nono Sebastião que esteja na guarda dos anjos, iriam residir como ele no tumulo um dia. Deixando atrás de si toda riqueza conquistada com os trabalhos do dia a dia.
. Essa idéia que tudo acabava no tumulo lhe parecia tão questionável, pois para que investir em crescimento e bondade, se tudo terminava numa lapide fria.
Da conversa com menino magrinho, descobre que seus companheiros não o deixam jogar pois ele se encontra adoecido, morava com a mãe de um deles, desde que a sua morrera vitimada pela AIDS. Descobre que o menino também era portador da moléstia infelicitante.
Questiona-se profundamente do porque, uma criança como aquela, já nascendo nestas condições, onde teria tido o mérito para diferentemente dele próprio estar em condições tão degradantes e tristes.
Onde estava a justiça divina neste caso, uma vez que o pobre inocente não teria nesta vida praticado nenhum mal que o fizesse merecedor de tal colheita em tristezas e sofrimentos.
Enquanto seu coração refletia sobre essa questão uma vez que não se poderia de forma alguma, aplicar parâmetros que pela razão justificasse tal padecimento. Acontece primeira experiência num campo totalmente diferente dos que havia vivenciado ate então.
Surge entre os arbustos do campo que beirava a favela, uma figura de traços angelicais, de vestes simples, claras, com cabelos loiros claros e com a luz do sol do entardecer, dourada, fazia com que mechas do ouro mais puro, se misturasse dando dupla tonalidade e que enfeitava ainda mais a beleza Angélica.
Dos Seus sonhos na infância com os anjos celestes, esse sem duvida se enquadrava dentre aquelas figuras que o deixavam muito pensativo, sobre as paragens sublimes de felicidade e bem estar, que viviam esses seres em algo que padre Anselmo dizia ser o céu.
Sente-se um tanto abismado frente ao que se lhe passou a vista, tentando compreender porque ele, que não dispunha de nenhuma tendência religiosa que o conduzisse a tal vista, beirando a alucinação, segundo entendia no momento.
Ela se aproxima do garoto, acaricia seus cabelos com carinho que os olhos do menino se iluminam e pasmo, percebe a figura a sua frente, como fosse uma miragem, bela a desfazer-se no ar.
Lembra neste momento, de algumas passagens com padre Anselmo, quando este falava de um mundo espiritual onde não haveria mais a pobreza nem o sofrimento físico que víamos nas telas da televisão.
Tão real a sua vista, justo a ele, por quê? Indagava com sua racionalidade. Como sempre desde sua infância para as questões que de alguma forma teriam que ter seu concurso, parava a refletir sobre o creador de todas as coisas e buscava uma ligação com ele para obter respostas prontas, mas se via invariavelmente envolvido em um grande silencio.
Então decidia por si mesmo o que fazer, e fazia.
Sentiu em seu intimo que o momento era de ação voluntária e passou a tratar o assunto em sua diretriz reflexiva numa direção objetiva, embora conflitando dentro de si, sobre essas questões que não obtinha respostas claras que justificassem tanto padecimento.
Conversou com o garoto demoradamente, obtendo detalhes tomando para si uma resolução, realizar alguma coisa pelos que viviam ali. Mas principalmente pelo garoto, que sorria, mesmo não podendo correr atrás daquela bola surrada.
Sua decisão naquele momento mudaria o rumo de sua historia pessoal...
E aquela viagem o transportaria para um mundo totalmente novo, onde ao lado da dor nos seus semelhantes encontrara as repostas que tanto ansiava, sobre nascer, crescer, morrer e enfim... Entendeu as palavras de padre Anselmo, renascer da água e do espírito para entrar no reino dos céus...


O reino dos céus... e o lar da esperança.

“O reino dos céus, é semelhante a uma semente de mostarda, é a menor das sementes, mas ao germinar se torna frondosa, abrigando em seus ramos os pássaros do céu”.


Fora para casa pensando objetivamente no garoto magrinho, reuniu-se com Mariângela assistente social e psicóloga da sua empresa, e soube através dela de diversas atividades assistências possíveis de serem realizadas no local visitado por ele.
Diante de si ia se formando um quadro peças iam sendo reunidas, e que comporiam aquilo que ele chamaria de Lar da esperança.
Dedica-se então a uma atividade insólita, a primeira vista, veste-se de forma bem simples, compra uma bicicleta surrada, suja, e vai no local fazer algumas observações de campo, como chamava. Seus mais próximos amigos, reagiram de forma estranha a ele em sua atividade, diziam ate que estava se desequilibrando mentalmente. Mas nada o removeu do seu intento.
Logo na primeira vez, que visita o lugar com simplicidade, depara-se com a jovem que surgiu do arbusto parada em frente a um barraco paupérrimo, coberto por lonas ou fragmentos delas amarrados por pequenas ripas apodrecidas.
Da mesma forma que antes, ela desaparece fragmentando-se em pequenos pontos luminosos que pareciam ser carregados pela brisa fresca daquela manha.
Sente impulso irresistível e para a bicicleta em frente ao local, e do seu interior ouve um choro sentido, baixinho, e bate na tabua fina que servia como portal de entrada.
Grande foi sua surpresa ao deparar-se com o rosto do menino magrinho que vira no campo como pegador de bola. Recebe um sorriso entre as lagrimas que rolavam.
Mais uma vez entretém conversa agora como se fossem velhos conhecidos, surge atrás do menino uma mulher esquelética igualmente abatida pela dureza que enfrentava, mesmo com toda aquela miséria identificado como amigo do menino, é convidado a entrar, e conversam demoradamente.
Por esse período descobre que o companheiro que mantinha com pequenos bicos a manutenção dos membros daquela família, e que fora o responsável por receber o menino adoecido, por pura piedade, havia morrido no dia antecedente e eles estavam assim, abatidos e sem saber que rumo tomar.
Ele se propõe a ajudá-los em troca de também o ajudarem em algo que ali viera realizar. Queria estabelecer contatos na comunidade para poder oferecer junto com um grupo de pessoas, voluntárias, algum auxilio para que aqueles que viviam no local pudessem encontrar meios de subsistência mais digna.
Não era seu propósito e dos seus amigos, dar o pão, mas sim, procurar auxiliar a que todos os que tivessem disposição ao trabalho pudessem faze-lo.Não era religioso dizia, e queria dar um pouco do muito que tinha para um propósito útil.
Claro que sua idéia foi muito bem recebida, e o local escolhido acabou sendo aquele onde o barraco paupérrimo estava situado. Onde o menino, que ouvira um dia a estória de João e o pé de feijão mágico, sugeriu que na frente pudesse ter uma arvore frondosa e que ela pudesse nas tardes quentes abrigar as pessoas a sua sombra.
Foi assim plantada por ele e o menino, a porta do barraco no dia seqüente uma muda de ipê rosa, que passou a ser a pedra fundamental do que se chamaria O lar da esperança.
Dono de uma construtora de renome, logo toma forma o prédio de dois andares, que serviria de centro de assistência aos portadores do vírus da Aids. No seu coração de forma humilde, entretanto, não cogitava em nenhum momento ostentar sua posição sócio econômica, sempre se apresentando como um voluntário a serviço de um doador anônimo.
O lar da esperança passou a ser o trabalho da madrasta do menino que auxiliada por uma nutricionista voluntária trabalhava na cozinha da casa e nos serviços gerais, e passaram a morar em um anexo construído para essa finalidade.
Nas tardes de domingo, como voluntário, reunia-se com as crianças adoecidas e as outras que viviam na comunidade e se dedicava a contar historias tiradas da sabedoria de grandes pensadores, que adaptava a linguagem infantil dos pequenos ouvintes.
O tempo foi passando e o local foi tomando novos ares, como se aquele prédio azul chamado lar da esperança, tivesse provocado uma renovação geral entre todos os habitantes.
No campo onde encontrara o menino, um gramado verdinho e plano, era usado para as atividades esportivas, tinham ate formado um time de futebol que era o orgulho da comunidade. Seus meninos não ficavam mais pelas vielas disputando o ócio sujeitos a influenciações negativas ao seu comportamento..
Algo sempre acontecia nas tardes de domingo, ou nos outros dias onde era reclamada sua presença. E sempre era precedido cada acontecimento pela moça de cachos dourados e olhos de um azul maravilhoso.
Em uma tarde enquanto contava a estória do dia, observa a moça novamente surgindo e desta vez se acomodando para ouvi-lo atenciosamente.
Ele falava algo escrito há muito tempo, e nele havia tanta transparência em sentimentos que elevavam que julgou apropriado para aquele dia.
Era assim que começava a pequena estória

“O reino dos céus, é semelhante a semente de mostarda”

Diante dele aqueles olhinhos curiosos, que sempre esperavam alegremente nas tardes de domingo suas estórias.

Naquele dia, ele se superava!
Como se tocado por uma emoção intensa, começavam a vir a sua mente todos os quadros que compunham desde o primeiro momento, onde foi surgindo a idéia do lar da esperança.
E foi assim que ele contou sua estória do dia.
Tinha um homem, muito sábio, que viveu em tempo muito antigo, que dizia que tudo o que o coração quisesse alcançar, ele podia.
Desde os primeiros momentos quando do seu nascimento, tudo parecia diferente. Tinha vindo gente de toda parte, parentes, desconhecidos, que ouviam de uma forma ou de outra a contarem da beleza do recém nascido.
Quando ainda bem pequeno, encantava quem o ouvia.
Era como se trouxesse a felicidade em si e a distribuísse com bondade a todos.
Esse menino um dia, reunido com crianças da sua idade, como nós aqui, e você que lê paciente, falou de um lugar feliz, que poderia ser de todos que quisessem nele estar.
Entretanto era preciso, que cada um levasse uma semente para o lugar mais árido da terra, e juntos as plantassem, deixando um circulo ao centro com pedras grandes, escolhidas a dedo para servirem de assento.
Como todos gostavam dele, sem saber por que gostavam assim com nós que nos amamos um pouco em todas as tardes de domingo, foram juntos e escolheram o lugar mais difícil, era cheio de ervas daninhas, pedras, parecia um deserto. Logo alguns disseram deste mato não sai coelho, aqui não vai brotar nossa semente! Perda de tempo diziam os mais desanimados.
Mas um grupo bem pequeno como nós aqui sentados, logo pensou, bom, podemos tentar trazer água do riacho, certo que fica longe, tirar as pedras maiores, fazer um circulo com elas e as menores podemos deixar menores ainda e encher i circulo com seu colorido,
Ta ficando bonito o lugar puxa, to vendo daqui dizia ele na sua estória, é como se as pequenas pedras coloridas fossem a cor dos nossos olhos brilhando de alegria. Todos juntos a sombra deste ipê florido.
Em torno depois de duro trabalho das crianças, removeram a terra e carinhosamente cada um colocou sua semente.
Foram feitos turnos de trabalho, cada um em um dia da semana vinha ali com uma balde bem cheio, e umas a uma eram regadas as sementes.
O tempo foi passando e ali em torno dos bancos de pedra e do chão coberto de pequenas pedras coloridas, foram crescendo pés de rosas, margaridas, arvores grandes que foram crescendo tanto que encobriam toda a área dos bancos de pedra.
E ali, o menino que também cresceu, e seus olhos mais azuis do que o céu, se assentava para falar daquele lugar feliz mais uma vez começando pela parte que usei.
“o reino dos céus é semelhante a pequena semente de mostarda
Ora ora! Não é que os meninos conseguiram construir o céu?
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Ali tinha perfume das flores, sua beleza, tinha festa brincadeira, adultos riam conversavam, trocavam idéias, observavam suas crianças e contavam estórias sem fim.
E tudo isso começara com a idéia de construir um lugar feliz a partir da historia da semente!
Então o céu que esse sábio falava, não fica lá em cima não, lá tem céu como aqui onde estamos no lar da esperança.
Pois este céu que o menino que depois se tornou homem falava, é algo dentro e não fora, como muita gente pensava...
Bom para todos nós aprendermos que juntos nossos corações podem mais, juntos, do que sozinhos!
Ao encerrar sua historia com esse fecho, notou nos lindos olhos azuis de cachos dourados, como a chamava em seu pensamento, duas lagrimas luminosas como contas diamantadas, surgindo graciosas em meio a um sorriso cheio de emoção e alegria.
Às vezes continua ele, sorrindo para os pequenos, precisamos aprender a ouvir o silencio...
Vamos fazer um exercício de ouvir o silencio, pergunta aos pequenos.
Silenciosamente distribui uma folha em branco, lápis coloridos, e pede a todos para que fechem os olhos para ouvir o silencio e depois que cada um fale através de um desenho o que ouviu no silencio...
E coloca onde cachos dourados tinha ficado para mais uma vez desfazer-se em pequenos pontos luminosos, uma folha em branco com uma pergunta em seu pensamento, quem é você?
Tocava uma musica em radio ligado ao longe, enquanto ao mesmo tempo pássaros brincavam alegremente entre as folhas do ipê, iam e vinham do ipê a amoreira existente na subida do morro, cantando alegremente, e neste ambiente musicado, de orquestrações naturais e humanas os pequenos corações silenciaram, a brevidade de cinco minutos começou o silencio musicado ser quebrado pelo roçar dos lápis de cor nas folhas brancas.
Os pequenos corações falavam do que estavam ouvindo...
Reunidas ao final, as folhas foram juntadas, e todos foram sorrindo para o lanche que havia sido preparado na cozinha do lar da esperança.
A idéia que ocupava a mente daquele amigo contador de estórias, era formar um quadro com todos aqueles pensamentos expressados através de um momento de meditação.
Recolhido na pequena sala do anexo, com uma grande cartolina onde pretendia colar os pensamentos, os desenhos feitos pelas crianças...O que encontrou deixou marcas de emoção e por um longo e silencioso rolar de lagrimas .
Sem dar por si, recolhera igualmente a folha em branco deixada para cachos dourados, junto com todas as demais.
E foi a primeira que pegou nas mãos, e encontrou a escrita
Meu nome é Maria...