O reencontro no céu
Ah o céu, onde fica? Será distante, perto, que eu faço para entrar, vou poder levar José Augusto meu irmão, pensativo ficava num canto do auditório João Antunes irmão mais velho de José Augusto.
Sua emoção era transbordante nas primeiras horas do dia, sorrindo abraçava seu irmão e o convidava pra brincadeiras no pátio do lar da esperança, eram órfãos e a vida não lhes oferecera facilidades, João o mais velho ainda se lembrava da mãezinha magra que ia toda quinta feira no final da feira recolher os legumes recusados .
Era disso também que se alimentavam. Vezes só do legume recolhido. Se bem que João não via rudeza na vida, a sopa que mamãe fazia era tão saborosa! Tinha mandioquinha que adorava de caldo grosso pela batatinha que ela cozinhava ate desfazer em separado depois acrescentava ao final ao caldeirão.
Dava ate água na boca quando se lembrava, se bem que no lar, tudo era muito saboroso.
Até que um dia não a tiveram mais, nem a sopa, nem a mãezinha que tanto amava. Fora-se em silencio numa noite fria, a mesma quando por razão desconhecida aparecera um homem a porta, dizendo-se voluntário do lar que agora o abrigava e a seu irmão José Augusto.
Leva a santinha que sua mãe lhe dera um quadrinho pequenino que ganhara ainda criança bem surrada, amarelada pelo tempo, e dizia ela, ser a mãe de todas as crianças da terra. Fosse o que fosse que passassem seus filhos, ela estaria sempre por perto, dando força e coragem necessária para entender que temos o necessário, e quando a dor nos visitasse, ela por certo tocaria algum coração, que de pronto atenderia a necessidades urgentes.
Seja de pão ou do melhor alimento de todos, aquele que aquece o espírito, não o deixa desistir, faz dele um guerreiro, o amor, o amor.
Seu questionamento era tão profundo que as vezes José Augusto seu irmão reclamava do silencio, parecia estar em outro mundo, conversando com alguém! Nessas horas quem pudesse ter olhos de ver veria Maria como que sussurrando esperança aos ouvidos do menino.
Era assim que ele considerava o céu. Se Deus esta em toda parte, e como conta dona Luiza da escola, o universo é infinito, então estamos num pedaço dele, ora se estou no céu o que faço nele?
Porque será que uns nascem sabendo que vão morrer logo, logo, como ele apesar dos remédios que tomava sabia, que ia, e o que ia ser de seu irmão José Augusto! Às vezes chorava baixinho ate que Jose perguntava que foi mano, ta derretendo? Ta saindo água dos seus olhos de novo!
Dizia desta forma porque dissera um dia que não chorava, sentia calor nos olhos e eles suavam!
Coisa de criança para não contar da dor que sentia, e sabia que não poderia ficar, portanto todo dia bem cedinho, acordava seu irmão e o levava para brincar no pátio, ate que se fosse isso faria com alegria.
Numa destas manhas um pouco mais frias, seu irmão acordara febril, dona a voluntária das terças feiras encontrara ele todo suado, branco feito leite na cama e tremia! Não levara mais que um dia e seu companheiro de todas as manhas fora levado e não voltara mais.
Na solidão daquelas manhas frias, ele, que sentia que iria primeiro perdera seu bem precioso, aquele rostinho meigo e sorridente de José Augusto seu irmão mais novo.
Tinha recebido palavras amorosas que queriam conforta-lo, diziam a João: Ele agora ta no céu, num lugar feliz!
Ah pensava todo confuso, mas o céu é aqui! É aqui! Queria a alegria do meu irmãozinho ao meu lado, mas se foi e meu pedaço de céu agora ficou vazio, mas como não era desistente, tinha ali tanta gente carente de alegria, não desistia das brincadeiras.
Vi no rosto de outros pequenos, seu irmão José Augusto, e no das tias da cozinha, sua mãe não a do céu que trazia no bolso perto do coração, mas a da terra, que tão cedo se fora...
Sua historia foi bem longa, vivera ali dezenove primaveras. Tinha no seu trajeto e projeto de vida alcançar o céu e poder estar de novo com seu irmão José Augusto e sua mãe que fazia uma sopa deliciosa.
Mas enquanto isso buscava sentia que devia fazer algo, por aqueles que junto com ele dividiam o mesmo quarto.
Tinha o Roque de uma perna, coitadinho queria jogar bola com sua muleta e não podia, então João ficava horas brincando com ele de acertar o balde de dona Maria. Sabe o que aconteceu a Roque? Aos dezesseis anos nos seus um metro e oitenta de altura fora convidado para participar da Olimpíada!
Numa seleção de deficientes físicos que jogavam basquete¹
Tinha o João como ele, só que João Alberto, que era esperto como ninguém mas tinha paralisia, inteligente, mas arredio, não gostava de brincar com ninguém, vivia pelos cantos no seu desencanto, ate que ele numa daquelas manhas quando lembrava de seu irmão que tinha indo pro céu, e chorava, chamara sua atenção..
Porque esta chorando? Ah naquele dia desabara, chorara tanto no ombro amigo que se oferecera, e a partir dali em conversas em brincadeiras encontrara no seu amigo também João algo extraordinário, era um pensador nato!
Dissera olha, você vai ser um grande escritor!
Não é que João Augusto estava certo!
João Alberto seu amigo, tinha escrito um poema delicado como um perfume suave, que tocava a quem lia como brisa perfumada.
Fora lido pelo homem que chegara a porta no dia que mamãe se fora, e este, por sua vez mostrara a um outro que um livro dos poemas fez!
Foi uma festa quando esse soube! Sorria e cantava e abraçara-se a João Antunes, viu só meu amigo você estava certo! E não parara mais de escrever a partir daquele dia.
As vezes ate ficava a rir sozinho, quando no jardim com folha branca parecia pintar quadros com as palavras que escrevia.
Tinha tanta gente na historia de João Antunes, que se fosse somada a quantidade daria dois lares de esperança.
Certo dia, entretanto, também silenciara. Via coisas estranhas sem entender o que acontecia.
Todo mundo correndo aflito, e gritando o seu nome! Doutor! Doutor! Gritavam o João! O João!
A principio pensara que falavam de outro João, depois de algum tempo percebera que era dele que falavam.
Vira a primeira coisa estranha, a si mesmo, branco feito cera da vela do oratório, recostado na grande arvore, onde se encontrava a ouvir as estórias de Lilica!
Vixe agora que tinha de vez pirado! Diziam que estava morto! Ele gritava não!, não! To aqui bem vivo!
Mas ninguém parecia dar-lhe ouvido. Ate que...
Perto da arvore que estava toda florida, de um rosa lindo e forrava o chão as flores caídas, aparece nada menos que uma moça muito linda, que sorria para ele e ele não conseguia lembrar de onde a conhecia!
Ela parecia saber quem ele era! Era a única que lhe ouvia! Ninguém mais, ninguém mais!
Que coisa estranha mas ao mesmo tempo era tudo mais bonito!
Parecia ate sair luz dos seus braços antes cansados, quando se sentara recostado ao ipê!
Vai ao bolso apressado, lá a vira! E quando tira a figura antiga em luz ela se desvanece e a figura celeste diante de si era Maria!
Mãe ele grita feliz!
Ela meiga, diz, tem gente a sua espera vem comigo!
Num instante some o ipê, a gritaria e um silencio musicado por sons de pássaros tomava todo tempo.
Entrara num recinto iluminado, e levara um susto danado.
Seu irmão João Antunes viera correndo para um abraço e a sua mãe. Mas eles tinham morrido, seria real?
Perguntava-se. Estaria ele no céu?
Ah mas quando mais gente encontrava mas essa certeza firmava-se.
Ali era o céu.
Ate ouvir Maria, voz doce, terna como nunca ouvira!
Ela dissera onde estavas João Antunes também era o céu!
O céu é onde estou, porque Deus esta em tudo! Em nós também!
Isso é conto doutro mundo para quem busque o céu neste onde da ate pra ler historia, ou será estória?
Tanta imagem vem na mente, de que lê e quem escreve, podem dizer de coisas belas
Outras tantas onde soltamos a fera interior, depois nos arrependemos. Sentimos dor.
Ao chegar ao céu entanto, vai notar que nele sempre esteve porque é dentro que sente e não fora num lugar.
A esperança é uma porta, mas não para a gente entrar mas para ser.
Quem é esperança o céu sempre leva para oferecer!
È aqui que ele esta, venha visitar o céu que existe, na alegria de um olhar!
No riso farto, no cheiro de mato, na historia de Lilica, no conto de João Antunes, e seu irmão Jose Augusto, do amigo que virou campeão de basquete na olimpíada, do escritor que pinta quadros lindos com as palavras!
No sorriso de Maria Ah Maria, de tão doce e terna que alegria, que alegria...
João Antunes encontrou o céu que buscava e você que leu ate aqui, viveu um pedaço da historia do lar da esperança, sabe onde ela se abriga?
Não o céu! Não ele já sabes, a esperança! Onde ela se encontra!
No lar que leva o nome! Lar da esperança Ah não!
Não é um lugar físico embora tenha corpo.
Ah mas que corpo é esse de João Antunes que parece brilhar de tanta luz!
Segundo Paulo, no novo testamento, evangelho cristão.
Somos todos feitos, corpo material e corpo espiritual...
Ora se estiver no corpo material ligado ao meu espiritual o céu é onde me encontro
A esperança é aquilo que eu posso ser e ter para dar por amar.
Mas ainda não termina nossa historia do lar da esperança, apenas a de João Antunes que passou pela terra, plantou o que podia, colheu o que necessitava
Agora esta no céu com seu então mais novo, suas duas mães uma delas Maria, ou aquela chamada pelo homem que a via, Cachos dourados....
Descobriu onde fica o céu?
Não é o lugar, é estar! Concluiu João Antunes...