domingo, 26 de abril de 2009

O lar da esperança parte dois.





Os trinta desenhos que compunham um quadro!

Aquele nome, Maria, o conduzia mais uma vez a sua infância.
Na grande tela colocada para projeção de filme natalino, que o chocara!
Um homem fora conduzido para a crucificação!
E uma mulher chorava...

Como se perguntava, comemorar uma data que se diz festiva com uma película tão deprimente do ponto de vista da agressividade humana? Como o ser humano consegue ser tão cruel?
Via somente as lagrimas de uma mãe aos pés do crucificado, associadas as da sua própria despertando nele questionamentos profundos. E o nome daquela mãe era Maria, como também era chamada a sua.
Interessantes e conflituosos as vezes os grandes questionamentos do espírito em sua jornada eterna, por vezes assombrados pelo ter, maculamos o ser com a vista obscurecida pela verdade em si mesma.
Era o homem crucificado portador de uma mensagem que viajaria pelos séculos a mercê dos mesmos violentos e que pouco ou nada a compreendiam.
Seus questionamentos sempre o conduziam a olhar alem da forma, e sempre se orientava por suas próprias conclusões.
Sob os efeitos das lembranças de sua infância continua sua proposta de mural com os desenhos dos adolescentes e que comporia um novo marco para o lar da esperança.
Foi pela ordem em que pegara os desenhos das crianças para o quadro “ pensando historia”.
Depois do nome de cachos dourados, Maria, veio o pensamento transportado para a forma de Juliana, a menina paralítica que todos eram incentivados a ajudar, pois alem do problema comum a todos tinha a paralisia.
Seu coração aos saltos olha para o desenho e não consegue evitar que lagrimas quentes escorressem por sua face.
Ela descrevera em seu desenho os amigos reunidos em torno do ipê rosa, No local lhe cabia, por ser o contador da historia do dia, parecia que ela desenhara o crucificado de sua memória da infância! Uma enorme luz era o que se entendia por um circulo com raios multicores, que a principio entendeu ser o sol no horizonte, mas por analise mais precisa, percebeu que a menina desenhara com todos os tons de cores disponíveis a ela o lugar onde ele vira cachos dourados assentada e ouvindo a ele naquele dia(Maria)
Novamente veio a sua mente...
“O reino dos céus, é semelhante a uma semente de mostarda, é a menor das sementes, mas ao germinar se torna frondosa, abrigando em seus ramos os pássaros do céu”.
Entenderia um pouco mais profundamente no correr daquele dia, como esperamos que você que lê, também considere.
Que tudo o que esta fora é elemento para despertar o que vive dentro!
Que esse reino, dos céus, onde se encontra a terra também, é por via de constatação dado ao avanço da ciência, tanto em todo o universo como aqui na terra, dentro dos corações e não fora deles.
“Pai! Seja feita a vossa vontade, assim na terra como nos céus!
Essa vontade superior sempre acontece considera ele naquele momento de emoções e lagrimas que se seguiriam marco da sua existência, pois cada descoberta onde se abra a porta do universo interior nos torna seres renovados, com novas propostas de acertos cada vez mais precisos, em sintonia com a verdade eterna.
As lagrimas ocuparam novamente em fluir posto que a seqüência dos desenhos por mentes que viviam absorvidas pela dor, pelo abandono, por doença implacável, lhe oferecia naquele instante lição que reservaria lugar especial em seu coração pela eternidade, era esse seu desejo, jamais esquecer...
Depois de Juliana, foi o de Paulo, menino magrinho, meio pálido que em suas primeiras semanas no lar da esperança, trouxera alegria e ao mesmo tempo despertava grande compaixão em todos.
Olhos azuis grandes, quando chegara era tudo o que se podia ver de belo no menino, todo seu corpo carcomido pela desnutrição, era pele e ossos! Mas quando tocado pelo carinho dos voluntários do lar, sorria! E seu sorriso se assemelhava a duas estrelas de luz ofuscante e azul a brilhar e motivava quem o assistia a se desdobrar em vibrações do mais puro amor em sua direção.
- Quem lhe falara de amor assim na sua infância? Quem lhe ensinara os caminhos da compaixão, quem o transportara para aquele lugar naquele dia, perdendo-se para se encontrar? De que ser era a voz que ouvir ressoar dentro de si...
Paulo desenhara o campo de futebol com os meninos correndo atrás da bola, e um outro ele próprio, correndo feliz entre eles! O juiz, era parecido com o homem do desenho de Juliana, no lugar onde ele se colocava para contar suas estórias ah, mas na beirada do campo, onde pela primeira vez freara seu carro, onde cachos dourados lhe aparecera pela primeira vez para depois se desvanecer, mais uma vez, o desenho de uma luz de cores diversas.
Um dia o amor disse:
“Onde estiverem duas ou mais pessoas reunidas em meu nome ai estarei presente”
O lar da esperança, pelo que sentia, já não era algo de estrutura externa. Tomava forma, cores, luzes nos desenhos das crianças. Já tinha se tornado algo do lado de dentro naqueles pequenos anjos mergulhados na agressividade da Aids.
Aninha o deixara assombrado, desenhara uma arvore grande que lembrava e muito o ipê rosa, todos eles assentados e no local de cachos dourados mais uma vez com traços de varias cores um pequeno sol reluzindo e deixando seus raios multicores se desprenderem e como que se dirigindo a cada cabeçinha ali presente.
Pareciam todos filhos de cachos dourados...
O desenho de Pedro Paulo fora desconcertante atrás do ipê onde apenas um barranco havia, desenhara outro edifício de cinco pavimentos e sobre o menino no desenho de Aninha mais luzes desprendidas de cachos dourados se concentrava, e para isso, não encontrara explicação.
O menino tinha historia semelhante aos demais, nascera no bairro pobre, era negro um lindo menino negro, e sua doença já tivera traços alarmantes com complicações diversas
Quem pode medir o alcance da compaixão? Se nós que somos imperfeitos, damos boas coisas para nossos filhos, quem nos fez humanos e divinos, e nos tem como filhos seus deixar-nos-ia a mercê da dor olhando todo sofrimento de um trono reluzente?
Porque a dor esta espalhada e as almas gemem nos cantos obscuros parecendo abandonadas, ao pensar isso, pareceu-lhe que um perfume suave era trazido pela brisa daquela manha de primavera.
O cheiro de roseiras plenamente em flor fez com que seu espírito recordasse de cachos dourados, não fora sua aparição no momento oportuno, quando perdera-se e se sentia perdido, o impulso que necessitava para dar uma direção objetiva as suas ações na área social?
Reunido com aquelas crianças quantas lições de amor tivera com as aparições de cachos dourados! Parecia um anjo motivando a compaixão que sentia pelos mais sofridos.
De Pedro Paulo, não sabia, mas estava reservado um momento especial de despedida quando tivesse terminado sua tarefa junto ao lar da esperança, no momento em que ele se despedisse da vida e das crianças que passara a amar como se fossem seus filhos.
Zoaraia, a menina autista, aidética, também rabiscara talvez motivada pelo momento onde o que se ouvia era só o roçar das pontas do lápis nas folhas brancas. Entre os rabiscos que a primeira vista pareciam desencontrados, observara trinta pontos onde usara a mesma cor, e formava na pequena folha um quadro abstrato e de uma lógica estonteante, para ele, que sabia, era o único que via cachos dourados.(Maria)
Num tom de azul que tudo unia, que partia de Maria, como um circulo traçado formando uma espécie de proteção para os trinta pontos comuns, onde ela, com seu jeito descoordenado fizera encontrar todos eles em tonalidade de dourado, vermelho e amarelo ao lado .
Mãe lembrara naquele momento, que o fizera ninar quando pequeno, tinha colo quente e aconchegante, era o próprio amor que aquecia nas noites frias, onde fingindo medo corria da sua cama e choroso pedia para dormir no meio.
Cachos dourados parecia saber que ele entenderia o propósito maior do seu amor por aquelas crianças, levaria algum tempo para que juntando as partes ele pudesse isso acontecer, que o amor de cachos dourados, que despertara plenamente quando vira seu filho morrer aviltado, injustiçado pela cegueira humana, e se propusera a amar aqueles a quem ele houvera chamado de irmãos seus.
Até os próprios agressores, a plenos pulmões dissera:
Pai perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem!
E a dor por vezes é escola que redime, eleva a alma enquanto jornadeia na estrada poeirenta e fria. Muitas vezes violentada pela indiferença, não fossem as manifestações de amor de outras esferas, como aparições provando a vida alem da vida, na condução do voluntário desapego, da compaixão que existe dentro dos corações, no celeste abrigo chamado Terra. A dor sofocaria aqueles que passam por ela...
Então se ouve o chamado do amor lhe direcionando a compaixão, que esperas?
No desenho de João algo que enternecera, paralítico das duas pernas, ele se desenhara correndo pelos campos e o curioso nestes campos, eram as trinta arvores dispostas em torno deste campo onde corria! Parecia que o desenho de João ria enquanto ele chorava copiosamente ao ver fala comum a trinta corações!
No de Joana Maria, com seus cachos negros pendentes enquanto com um só dente sorria, encontrara mais que trinta, como se uma multidão não vista circundasse o lar da esperança, enquanto se ouvia historias nas tardes de domingo. Seria proteção de outras esferas se perguntava enquanto suas lagrimas rolavam silenciosas.
Por outro lado refletia aquele não era o lar da esperança, um ponto onde cachos dourados (Maria) lhe aparecia, e não era ela com seus traços angelicais e seus olhos repletos de amor e compaixão reunia os desabrigados pela esperança?
SE O AMOR FOR POR UMA VIDA, que triste sina para o amor... Morrer, morrer...
Assim, o mural se apresentava trinta pequenas folhas que já foram brancas, o próprio amor retratavam, era um dando pro outro, sentindo e ouvindo pensamentos.
Quem consegue ouvir ainda sua criança interior? Ela da asas a vida, conta segredos vê alem da forma sem medos. Perdoa como se não tivesse sido agredida, esquece as rudezas de uma boa briga.
Joga pião, brinca de amarelinha, mas se surge algo que lhe toque com um olhar cheio de ternura um grande sorriso devolve! O amor nunca será um estranho ao amor. È uma única luz, que parece adormecida, mas no trato da ternura pela vida, vai se redescobrindo seus contornos no interior dos seres.
Sua proposta para aquele dia, fora alem das suas expectativas e agora juntando todos os pensamentos das crianças, estendera num lençol pedido a Mariângela assistente social, e colados um a um na seqüência que encontrara, com o nome Maria! E os pequenos desenhos abaixo.
Formavam uma historia quem os via só pela forma não entedia a linguagem dos sentimentos ali colocados, eram parecidos! Todos tinham como uma luz e trinta eram os quadros, trinta eram as formas rabiscadas.
Mas só ele via Maria, ou melhor Cachos dourados...
Este lençol branco, com folhas espalhadas pela ordem, compunha a sala onde diversos pregadores, de diversas religiões se apresentavam como voluntário para falar de suas crenças, segundo ela, ouvira algumas, também tinham traços em comum.
Pareciam de mesma essência, embora os homens dividissem em nominações diversas.
E o quadro na parede, se fossem crianças ouviriam sua mensagem silenciosa.
A rosa é única. A roseira também.
Todas têm em semelhança o mesmo perfume, se dizemos ah a bondade esta nela, como um perfume que exala, donde vem a bondade se não da fonte?
Não é pois pela arvore que se lhe reconhece os frutos?
E se dizemos essa fruta veio de uma macieira, de uma mangueira, de uma castanheira não estamos falando de sua origem?
E se dizemos Pai! Da-me o entendimento, a sabedoria, a compreensão do amor, acaso ele como fonte, nos ofereceria facilidades, tudo pronto. O céu por graça sem que tenhamos que visitá-lo primeiro em nós?
E mergulhando no nosso próprio ser, descobrindo somos fruto de uma mesma arvore.
Não devemos nos sentir felizes? Mais irmanados, mas pacificadores, mais consoladores...
Os pássaros cantam nas manhas de primavera, porque nós, que pensamos, sentimos, criamos, deveríamos ser diferentes. Não é o fruto falando de sua arvore?
Se queres, pois encontrar Deus, olha primeiro Ele em ti mesmo.
E quanto tua consciência, criança, pura, sem preconceitos, maldade, te disser
Eu e meu Pai somos um só! Ah não mentes! Não vagueias alucinado a ponto de ser tido como louco fanático.
Pois só tu, fruto, sabes da seiva que vos alimenta.
Quando desprendido dela, será preciso que se vos lembre?
Não é tu, criatura humana, visitada pela necessidade de amar enquanto vives?
E esse amar não a seiva que alimenta a vida?
Acaso o fruto não deve servir de alimento, e se não servir para sua finalidade, de que serve se não para ser jogado e pisado pelos homens...
Pensa no quadro que vais formando, quando viajas comigo pelo lar da esperança, esta fora de ti o que viveste e sentes? Não é acaso o filme de tua vida que te encontras a visualizar nesta viagem comigo?
Tantas perguntas, sim,” não vim para trazer a paz, mas sim a espada!”
Semelhante atrai semelhante...
E a paz é presente de agora, que fazes com tua historia.
Traças teus quadros na compaixão, te elevas buscando os abrigos celestes iluminados, os mundos felizes, reunir-se com seres angélicos, ou se dobras, visita o lar aflito, o rogo desesperado dos filhos sem teto.
Para descobrires enfim, que o céu esta onde tu o levares.


domingo, 19 de abril de 2009

O LAR DA ESPERANÇA - PARTE UM


A viagem...

Disposto a encontrar seu caminho, homem viajava pensativo, ponderando sobre sua vida passada, as escolhas feitas, as frustrações e as vitórias em todos os campos da vida.
Materialmente tinha posição privilegiada não fora assombrado em toda sua jornada por nenhum momento de miséria ou fome, que tivesse lembrança.
Mas a justo tempo, seu espírito ansiando por novas realizações, reavaliava tudo que envolvia sua ação direta, para assim, adicionar esforço de renovação dentro das ações costumeiras.
Dirigindo seu veiculo por estrada longa e sinuosa, não notou perder-se na rota, ate chegar as cercanias de um lugar paupérrimo, onde a miséria e a fome era evidente, e ao mesmo tempo revoltante.
Indagou-se como podem seres humanos viver em situação tão deplorável e triste.
Repentinamente uma bola surge a frente do seu carro em movimento, usa os freios com energia e um menino com olhar assustado estaca, ele observa que , apesar do susto, e das condições físicas do garoto, este lhe dirige um sorriso, embora assustado.
Com receios em função dos noticiários relativos aos locais de pobreza extrema, ele estaciona seu veiculo, e passa a observar o grupo de garotos brincando num pequeno espaço plano, de grama mal cuidada e espaços de terra batida.
Fica parado meditando por longo período, ate que resolve conversar com um dos meninos, justamente aquele que viera a frente do seu veiculo quase sendo atropelado, pois este ficava sentado só observando o jogo dos meninos.
Parecia ecoar em seu espírito a voz da nona, falando da necessidade de se praticar o bem ao semelhante, enquanto vivendo na terra, pois todos como o nono Sebastião que esteja na guarda dos anjos, iriam residir como ele no tumulo um dia. Deixando atrás de si toda riqueza conquistada com os trabalhos do dia a dia.
. Essa idéia que tudo acabava no tumulo lhe parecia tão questionável, pois para que investir em crescimento e bondade, se tudo terminava numa lapide fria.
Da conversa com menino magrinho, descobre que seus companheiros não o deixam jogar pois ele se encontra adoecido, morava com a mãe de um deles, desde que a sua morrera vitimada pela AIDS. Descobre que o menino também era portador da moléstia infelicitante.
Questiona-se profundamente do porque, uma criança como aquela, já nascendo nestas condições, onde teria tido o mérito para diferentemente dele próprio estar em condições tão degradantes e tristes.
Onde estava a justiça divina neste caso, uma vez que o pobre inocente não teria nesta vida praticado nenhum mal que o fizesse merecedor de tal colheita em tristezas e sofrimentos.
Enquanto seu coração refletia sobre essa questão uma vez que não se poderia de forma alguma, aplicar parâmetros que pela razão justificasse tal padecimento. Acontece primeira experiência num campo totalmente diferente dos que havia vivenciado ate então.
Surge entre os arbustos do campo que beirava a favela, uma figura de traços angelicais, de vestes simples, claras, com cabelos loiros claros e com a luz do sol do entardecer, dourada, fazia com que mechas do ouro mais puro, se misturasse dando dupla tonalidade e que enfeitava ainda mais a beleza Angélica.
Dos Seus sonhos na infância com os anjos celestes, esse sem duvida se enquadrava dentre aquelas figuras que o deixavam muito pensativo, sobre as paragens sublimes de felicidade e bem estar, que viviam esses seres em algo que padre Anselmo dizia ser o céu.
Sente-se um tanto abismado frente ao que se lhe passou a vista, tentando compreender porque ele, que não dispunha de nenhuma tendência religiosa que o conduzisse a tal vista, beirando a alucinação, segundo entendia no momento.
Ela se aproxima do garoto, acaricia seus cabelos com carinho que os olhos do menino se iluminam e pasmo, percebe a figura a sua frente, como fosse uma miragem, bela a desfazer-se no ar.
Lembra neste momento, de algumas passagens com padre Anselmo, quando este falava de um mundo espiritual onde não haveria mais a pobreza nem o sofrimento físico que víamos nas telas da televisão.
Tão real a sua vista, justo a ele, por quê? Indagava com sua racionalidade. Como sempre desde sua infância para as questões que de alguma forma teriam que ter seu concurso, parava a refletir sobre o creador de todas as coisas e buscava uma ligação com ele para obter respostas prontas, mas se via invariavelmente envolvido em um grande silencio.
Então decidia por si mesmo o que fazer, e fazia.
Sentiu em seu intimo que o momento era de ação voluntária e passou a tratar o assunto em sua diretriz reflexiva numa direção objetiva, embora conflitando dentro de si, sobre essas questões que não obtinha respostas claras que justificassem tanto padecimento.
Conversou com o garoto demoradamente, obtendo detalhes tomando para si uma resolução, realizar alguma coisa pelos que viviam ali. Mas principalmente pelo garoto, que sorria, mesmo não podendo correr atrás daquela bola surrada.
Sua decisão naquele momento mudaria o rumo de sua historia pessoal...
E aquela viagem o transportaria para um mundo totalmente novo, onde ao lado da dor nos seus semelhantes encontrara as repostas que tanto ansiava, sobre nascer, crescer, morrer e enfim... Entendeu as palavras de padre Anselmo, renascer da água e do espírito para entrar no reino dos céus...


O reino dos céus... e o lar da esperança.

“O reino dos céus, é semelhante a uma semente de mostarda, é a menor das sementes, mas ao germinar se torna frondosa, abrigando em seus ramos os pássaros do céu”.


Fora para casa pensando objetivamente no garoto magrinho, reuniu-se com Mariângela assistente social e psicóloga da sua empresa, e soube através dela de diversas atividades assistências possíveis de serem realizadas no local visitado por ele.
Diante de si ia se formando um quadro peças iam sendo reunidas, e que comporiam aquilo que ele chamaria de Lar da esperança.
Dedica-se então a uma atividade insólita, a primeira vista, veste-se de forma bem simples, compra uma bicicleta surrada, suja, e vai no local fazer algumas observações de campo, como chamava. Seus mais próximos amigos, reagiram de forma estranha a ele em sua atividade, diziam ate que estava se desequilibrando mentalmente. Mas nada o removeu do seu intento.
Logo na primeira vez, que visita o lugar com simplicidade, depara-se com a jovem que surgiu do arbusto parada em frente a um barraco paupérrimo, coberto por lonas ou fragmentos delas amarrados por pequenas ripas apodrecidas.
Da mesma forma que antes, ela desaparece fragmentando-se em pequenos pontos luminosos que pareciam ser carregados pela brisa fresca daquela manha.
Sente impulso irresistível e para a bicicleta em frente ao local, e do seu interior ouve um choro sentido, baixinho, e bate na tabua fina que servia como portal de entrada.
Grande foi sua surpresa ao deparar-se com o rosto do menino magrinho que vira no campo como pegador de bola. Recebe um sorriso entre as lagrimas que rolavam.
Mais uma vez entretém conversa agora como se fossem velhos conhecidos, surge atrás do menino uma mulher esquelética igualmente abatida pela dureza que enfrentava, mesmo com toda aquela miséria identificado como amigo do menino, é convidado a entrar, e conversam demoradamente.
Por esse período descobre que o companheiro que mantinha com pequenos bicos a manutenção dos membros daquela família, e que fora o responsável por receber o menino adoecido, por pura piedade, havia morrido no dia antecedente e eles estavam assim, abatidos e sem saber que rumo tomar.
Ele se propõe a ajudá-los em troca de também o ajudarem em algo que ali viera realizar. Queria estabelecer contatos na comunidade para poder oferecer junto com um grupo de pessoas, voluntárias, algum auxilio para que aqueles que viviam no local pudessem encontrar meios de subsistência mais digna.
Não era seu propósito e dos seus amigos, dar o pão, mas sim, procurar auxiliar a que todos os que tivessem disposição ao trabalho pudessem faze-lo.Não era religioso dizia, e queria dar um pouco do muito que tinha para um propósito útil.
Claro que sua idéia foi muito bem recebida, e o local escolhido acabou sendo aquele onde o barraco paupérrimo estava situado. Onde o menino, que ouvira um dia a estória de João e o pé de feijão mágico, sugeriu que na frente pudesse ter uma arvore frondosa e que ela pudesse nas tardes quentes abrigar as pessoas a sua sombra.
Foi assim plantada por ele e o menino, a porta do barraco no dia seqüente uma muda de ipê rosa, que passou a ser a pedra fundamental do que se chamaria O lar da esperança.
Dono de uma construtora de renome, logo toma forma o prédio de dois andares, que serviria de centro de assistência aos portadores do vírus da Aids. No seu coração de forma humilde, entretanto, não cogitava em nenhum momento ostentar sua posição sócio econômica, sempre se apresentando como um voluntário a serviço de um doador anônimo.
O lar da esperança passou a ser o trabalho da madrasta do menino que auxiliada por uma nutricionista voluntária trabalhava na cozinha da casa e nos serviços gerais, e passaram a morar em um anexo construído para essa finalidade.
Nas tardes de domingo, como voluntário, reunia-se com as crianças adoecidas e as outras que viviam na comunidade e se dedicava a contar historias tiradas da sabedoria de grandes pensadores, que adaptava a linguagem infantil dos pequenos ouvintes.
O tempo foi passando e o local foi tomando novos ares, como se aquele prédio azul chamado lar da esperança, tivesse provocado uma renovação geral entre todos os habitantes.
No campo onde encontrara o menino, um gramado verdinho e plano, era usado para as atividades esportivas, tinham ate formado um time de futebol que era o orgulho da comunidade. Seus meninos não ficavam mais pelas vielas disputando o ócio sujeitos a influenciações negativas ao seu comportamento..
Algo sempre acontecia nas tardes de domingo, ou nos outros dias onde era reclamada sua presença. E sempre era precedido cada acontecimento pela moça de cachos dourados e olhos de um azul maravilhoso.
Em uma tarde enquanto contava a estória do dia, observa a moça novamente surgindo e desta vez se acomodando para ouvi-lo atenciosamente.
Ele falava algo escrito há muito tempo, e nele havia tanta transparência em sentimentos que elevavam que julgou apropriado para aquele dia.
Era assim que começava a pequena estória

“O reino dos céus, é semelhante a semente de mostarda”

Diante dele aqueles olhinhos curiosos, que sempre esperavam alegremente nas tardes de domingo suas estórias.

Naquele dia, ele se superava!
Como se tocado por uma emoção intensa, começavam a vir a sua mente todos os quadros que compunham desde o primeiro momento, onde foi surgindo a idéia do lar da esperança.
E foi assim que ele contou sua estória do dia.
Tinha um homem, muito sábio, que viveu em tempo muito antigo, que dizia que tudo o que o coração quisesse alcançar, ele podia.
Desde os primeiros momentos quando do seu nascimento, tudo parecia diferente. Tinha vindo gente de toda parte, parentes, desconhecidos, que ouviam de uma forma ou de outra a contarem da beleza do recém nascido.
Quando ainda bem pequeno, encantava quem o ouvia.
Era como se trouxesse a felicidade em si e a distribuísse com bondade a todos.
Esse menino um dia, reunido com crianças da sua idade, como nós aqui, e você que lê paciente, falou de um lugar feliz, que poderia ser de todos que quisessem nele estar.
Entretanto era preciso, que cada um levasse uma semente para o lugar mais árido da terra, e juntos as plantassem, deixando um circulo ao centro com pedras grandes, escolhidas a dedo para servirem de assento.
Como todos gostavam dele, sem saber por que gostavam assim com nós que nos amamos um pouco em todas as tardes de domingo, foram juntos e escolheram o lugar mais difícil, era cheio de ervas daninhas, pedras, parecia um deserto. Logo alguns disseram deste mato não sai coelho, aqui não vai brotar nossa semente! Perda de tempo diziam os mais desanimados.
Mas um grupo bem pequeno como nós aqui sentados, logo pensou, bom, podemos tentar trazer água do riacho, certo que fica longe, tirar as pedras maiores, fazer um circulo com elas e as menores podemos deixar menores ainda e encher i circulo com seu colorido,
Ta ficando bonito o lugar puxa, to vendo daqui dizia ele na sua estória, é como se as pequenas pedras coloridas fossem a cor dos nossos olhos brilhando de alegria. Todos juntos a sombra deste ipê florido.
Em torno depois de duro trabalho das crianças, removeram a terra e carinhosamente cada um colocou sua semente.
Foram feitos turnos de trabalho, cada um em um dia da semana vinha ali com uma balde bem cheio, e umas a uma eram regadas as sementes.
O tempo foi passando e ali em torno dos bancos de pedra e do chão coberto de pequenas pedras coloridas, foram crescendo pés de rosas, margaridas, arvores grandes que foram crescendo tanto que encobriam toda a área dos bancos de pedra.
E ali, o menino que também cresceu, e seus olhos mais azuis do que o céu, se assentava para falar daquele lugar feliz mais uma vez começando pela parte que usei.
“o reino dos céus é semelhante a pequena semente de mostarda
Ora ora! Não é que os meninos conseguiram construir o céu?
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Ali tinha perfume das flores, sua beleza, tinha festa brincadeira, adultos riam conversavam, trocavam idéias, observavam suas crianças e contavam estórias sem fim.
E tudo isso começara com a idéia de construir um lugar feliz a partir da historia da semente!
Então o céu que esse sábio falava, não fica lá em cima não, lá tem céu como aqui onde estamos no lar da esperança.
Pois este céu que o menino que depois se tornou homem falava, é algo dentro e não fora, como muita gente pensava...
Bom para todos nós aprendermos que juntos nossos corações podem mais, juntos, do que sozinhos!
Ao encerrar sua historia com esse fecho, notou nos lindos olhos azuis de cachos dourados, como a chamava em seu pensamento, duas lagrimas luminosas como contas diamantadas, surgindo graciosas em meio a um sorriso cheio de emoção e alegria.
Às vezes continua ele, sorrindo para os pequenos, precisamos aprender a ouvir o silencio...
Vamos fazer um exercício de ouvir o silencio, pergunta aos pequenos.
Silenciosamente distribui uma folha em branco, lápis coloridos, e pede a todos para que fechem os olhos para ouvir o silencio e depois que cada um fale através de um desenho o que ouviu no silencio...
E coloca onde cachos dourados tinha ficado para mais uma vez desfazer-se em pequenos pontos luminosos, uma folha em branco com uma pergunta em seu pensamento, quem é você?
Tocava uma musica em radio ligado ao longe, enquanto ao mesmo tempo pássaros brincavam alegremente entre as folhas do ipê, iam e vinham do ipê a amoreira existente na subida do morro, cantando alegremente, e neste ambiente musicado, de orquestrações naturais e humanas os pequenos corações silenciaram, a brevidade de cinco minutos começou o silencio musicado ser quebrado pelo roçar dos lápis de cor nas folhas brancas.
Os pequenos corações falavam do que estavam ouvindo...
Reunidas ao final, as folhas foram juntadas, e todos foram sorrindo para o lanche que havia sido preparado na cozinha do lar da esperança.
A idéia que ocupava a mente daquele amigo contador de estórias, era formar um quadro com todos aqueles pensamentos expressados através de um momento de meditação.
Recolhido na pequena sala do anexo, com uma grande cartolina onde pretendia colar os pensamentos, os desenhos feitos pelas crianças...O que encontrou deixou marcas de emoção e por um longo e silencioso rolar de lagrimas .
Sem dar por si, recolhera igualmente a folha em branco deixada para cachos dourados, junto com todas as demais.
E foi a primeira que pegou nas mãos, e encontrou a escrita
Meu nome é Maria...